Presente Oculto

Mas o que é isto? Um papel embrulhando o nada? Mas ele sabia que eu tinha dessas coisas...

Procurou alguma pista. Encontrou uma carta no canto da caixa onde seguiu o embrulho. Segurou-a firme, olhou para o nada e então, após uma leve desconexão de tudo, resolveu lê-la: Este embrulho vai percorrendo cada centímetro da distância corporal que existe entre nós. Irá passar de mão em mão, mas de uma certa forma chegará das minhas às suas. E neste embrulho vai um presente estranho, simples e oculto, e espero que consiga fazer tua alma suspirar enquanto teus olhos se fechem sorrindo e teus lábios moldurem o mais perfeito sorriso. Seis anos se passaram e tão pouco lhe presentiei. Não foi por preguiça ou falta de dinheiro, nem mesmo por falta de tempo. Todos os presentes foram comprados, mas nunca enviados, porque nenhum nunca serviu. Porque nenhum era ideal o bastante para deslizar das minhas mãos e passar a ser seu. E eu sempre receei em guardar os presentes que lhe comprava e depois dizer sentir saudades e te amar muito. O que sempre foi verdade. E eu sorria toda vez que lembrava do seu rosto. Sorria toda vez que lembrava do tom da sua voz. Sorria toda vez que lembrava dos seus braços envolvidos em mim, me servindo de abrigo e proteção. Sorria toda vez que lembrava de você. E chorava em seguida, porque havia sempre uma necessidade nunca suprida. Neste embrulho estão todas as lágrimas, todos os sorrisos, todos os segundos desses longos seis anos. Pegue. Segure firme. Sinta. Porque era meu e agora lhe pertence. Porque eu precisava muito dividir todos esses anos regados à saudade contigo. Porque você sempre esteve cada segundo, cada momento junto de mim, então essas lágrimas também são suas e esses sorrisos também são seus. E junto deste embrulho vai parte da minha vida, parte de mim... Para que possas devorar e abastecer-se. Abastecer-se de amor. Porque sou toda tua e sou toda amor. Agora cheira o embrulho, por favor. Sentiu? Bom? Sabe, é cheiro de eternidade... Porque junto desta carta e deste embrulho vai ainda o para sempre que nunca deixou de ser possibilidade para nós. O seu presente então é esse: toda a minha vida e, não sendo bastante, toda a minha eternidade também.