Fome de quê?

Busquei uma folha em branco em que pudesse rabiscar minhas idéias, começar a estruturar o texto, dar forma aos meus pensamentos... A caneta não pegou, optei por outra e essa sim escreveu como queria; desejei escrever.

Priscila lia incansavelmente a mais de três horas. Não se abalava com o volume alto da TV, com os rugidos de um cão violento da vizinha, com a picareta que jurava quebrar as pedras da construção ao fundo, com os carros que buzinavam anunciando mais um casamento na cidade. Enquanto isso Beatriz dormia, estava alimentada, descansava na sesta vespertina. Lá embaixo, no primeiro andar de nosso apartamento, a alma da minha esposa também ganhava o seu sustento: era alimentada pela leitura. Logo me veio algumas frases célebres sobre esse alimento que solidifica a alma, rejuvenesce o espírito, leva oxigênio ao cérebro. “Quem não lê, não pensa; quem não pensa será para sempre um servo” (Paulo Francis); “Ler é melhor que estudar” (Ziraldo). Mais a fundo não poderia esquecer-me do grupo Titãs e sua música “Comida”: “A gente não quer só comida... Você tem fome de quê?”. Adélia Prado não saiu de minha mente e foi logo se pronunciando: “Não quero a faca nem o queijo, quero a fome”. Fome de ler, ânsia pelo saber, busca pelo conhecimento, desejo, vontade, necessidade, prazer... E lá em Mateus no “Livro Sagrado”, “Nem só de pão o homem tem fome”. Nosso desejo é maior, a angústia nos domina. Buscamos satisfação, lazer, comodidade, a leitura nos traz. Fico triste quando me deparo com cenas em que o interlocutor afirma não gostar de ler. Vou logo deduzindo: não tem alma.

Como queria que os discentes lessem, que os docentes recuperassem a vitalidade e voltassem ao exercício da leitura; que os preços dos compêndios fossem reduzidos; que na cesta básica o livro tornasse um ingrediente indispensável; que nossas bibliotecas prosperassem e os livros fartassem.

Ao longo desses anos o que aprendi com a leitura e o que mais tenho ainda por aprender... Quero ler, minha esposa lê, minha filha já ensaia as primeiras estórias ao se deparar com um livro, anseio por um mundo de leitores. Como dizia Monteiro Lobato, que querem extinguir com a sua obra, “Um país se faz com homens e livros”. Bom apetite! Mas tenham fome...

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 19/11/2010
Código do texto: T2625016
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