A primeira viagem ao exterior ninguém esquece.

Estavam casados há mais de vinte anos. Ele costumava viajar para fazer reportagens para o Jornal onde trabalhava, e sempre arrumava uma desculpa pra não levar Mimi, a esposa.

Quando a filha do casal fez dezoito anos, o pai resolveu levar mãe e filha para uma viagem à Grécia; afinal, o Jornal pagava e ele tinha créditos acumulados por nunca ter levado nenhum acompanhante. Na verdade já havia levado, mas não oficialmente...

A esposa mal cabia em si de felicidade, e todas as suas amigas tomaram conhecimento do “evento”, pra bem da verdade: o bairro inteiro, pois Mimi sempre dava um jeitinho de contar, assim “em conversa”, sabe?

Quando retornaram da viagem de vinte dias, a Grécia passou a ser o assunto preferido de Mimi. A família do marido já não agüentava mais ouvir os detalhes sendo reprisados: “Na Grécia isso, na Grécia aquilo, porque o povo grego é assim, a comida é...”

Combinaram que o réveillon seria na casa da sogra de Mimi, e cada um levaria um prato.

-Trarei uma salada grega! Prometeu Mimi com os olhos brilhando de felicidade.

As cunhadas se entreolharam; na verdade morrendo de curiosidade para saber como era a tal salada.

A internauta de carteirinha, pesquisadora nata, no mesmo dia consultou o Google, mas guardou silêncio sobre o que descobriu.

Dia 31, Mimi, o marido e a filha foram os últimos a chegarem. Ela toda empertigada entrou desfilando com a enorme bandeja de salada; e veio vestida a caráter, o traje que segundo ela era a ultima moda na Grécia: vestido longo, branco, que consiste em pelo menos 3 metros de tecido fino, como se fosse um canga, tendo numa das extremidades detalhes drapejados. Este tecido é enrolado ao corpo, ajustado à cintura por uma faixa de pano bem comprida, geralmente do mesmo tecido, que sobra o suficiente para passar por um ombro e a ponta é levada na curva do braço como se fosse um xale.

Quando Mimi entrou na casa da sogra, a família se calou estupefata, e a seguiu ansiosa para conhecer a tal salada grega: alface crespa, tomates secos, cebola e pepino em rodelas, queijo em cubinhos, palmito e azeitonas pretas. Na hora de servir, sal e azeite.

A pesquisadora do Google questionou a ausência do pimentão, mas a cunhada rebateu:

-Só quem esteve na Grécia sabe como é a verdadeira salada grega! É claro que não se consegue dar o sabor exato, porque os nossos queijos...

“Mamãe”, felizmente atalhou a filha: “menos, menos, tá?”

Ela ainda tentou rebater, mas o marido propôs um brinde e o clima se normalizou.

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 19/11/2010
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