21. Viajar bem
Confesso que nunca gostei de viajar acompanhado, mas na segunda parte da minha vida sempre viajei acompanhado. Não há nada que se compare a viajar consigo próprio.
Fazes o que queres, vais para onde te der na real gana, as vezes que te apetecer, e sem teres de dar conta ou cavaco a quem quer que seja. Além do mais, é mais barato.
É esta a sensação que me deu hoje, dia 10 de Julho, em Roma, entre a Piazza di Venezia e o coliseu.
Apetece-te dançar? Danças. E dancei. No meu MP-4 tocava o ‘knock, knock on heaven’s door’ de Bob Dylan. Veio alguém dançar comigo, mais alguém, dali a nada, havia um grupo que dançava.
A ‘via dei Fori Imperiali’ cheia de turistas, de homens estátua, de gente vestida de soldado romano, de músicos, de carros de venda ambulante, de vendedores de leques, de guarda-sóis, tudo à caça de dinheiro.
O Coliseu está ali um pouco mais abaixo.
Tenho a camisa encharcada em suor.
Apetece-te cantar. Cantas. Cantei. E a malta que dançava comigo, cantou comigo.
Água? Quanto custa? Quatro euros. Muito caro. Prefiro morrer à sede do que ser roubado.
Apetece-te sentar? Sentas-te. Sentei-me. Sentei-me à sombra de uma oliveira gigante.
Apetece-te estirar na relva? Estiras-te. Estirei-me.
Apetece-te tirar um retrato? Tiras um retrato. Tirei um. Acho que fiquei bem.
O Coliseu está ali mesmo. Mas, antes, vou descansar.
Afinal, queres ir mesmo ver o coliseu? Não.
E não fui.
Mário Moura
Roma, 10 de Julho de 2010