O JAÚ E O LOURO



Logo pela manhã ouvi vozes estranhas que vinham pela janela da sala, onde eu estava lendo. Lembrei-me, então, de que o síndico nos havia comunicado sobre as obras que iriam começar, naquele dia.
Eu estava estudando, tentando me concentrar, ms não podia deixar de ouvir a conversa dos dois rapazes que estavam no jaú. Um deles era um homem feito, o outro, seu ajudante, pouco mais que um garoto.
- Você esteve lá, Claudinei? – perguntou o mais novo.
- Claro! Fui ver o que estava acontecendo. Foi uma briga e tanto!
- Mas o que foi que aconteceu?
- O cara tava batendo na mulher, meu camarada.
- E por quê?
- Por causa do louro.
- Pô, assim não dá. O sujeito perde o emprego na véspera do casório, não pode nem dá uma beca maneira pra gatona e ainda bate nela?
- E o pior é que ele amarrou ela no sofá.
- Amarrou?
- É. E o louro ficou gritando feito um louco
- E ele?
- Pegou o bichinho pelo pescoço e começou a torcer.
- Aí ela cedeu?
- Mas não foi por causa do louro que a briga começou?
- Positivo. Ela queria que o bicho dormisse na cama com eles, na noite de núpcias e, é claro, o sujeito não topou.
- Mas ele é meio esquisito mesmo. No dia do noivado não deixou ninguém dançar com a gata.
- Mas tinha razão. A mulata é um avião. Eu também não ia deixar, ninguém pilotá ela não. Mas eu até dancei com ela, ta sabendo?
- Mas tu é quase parente, né?
- E como é que acabou a história?
- O avô da moça foi lá, desamarrou a coitada e ainda lhe deu uns tabefes, pra ela não ser teimosa e se amarrar com um sujeito grosso como o cara.
- E agora? Ela vai querer continuar com ele?
- Acho que sim. Ele disse que, se ela fosse embora, ele ia comer louro com farofa.
Os rapazes conversavam enquanto trabalhavam. O jaú ia subindo e, naturalmente, a conversa ia ficando cada vez mais longe.
Não sei como acabará essa história, mas estou de acordo com o futuro marido que não quer ir pra cama com a mulher, principalmente na noite de núpcias, levando um louro para dividir as glórias. A noite tem que ser só dele e ele é o galo e única ave permitida no terreiro.


edina bravo
Enviado por edina bravo em 19/11/2010
Reeditado em 29/05/2013
Código do texto: T2624458
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