Dê-me comida, por favor!

Alguém conhece Manari em Pernambuco, Jordão no Acre, Traipu nas Alagoas, Guaribas no Piauí ou Centro do Guilherme no Maranhão? Estas são as cinco cidades mais miseráveis do Brasil, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Segundo os estudos da ONU estas cidades possuem os maiores índices de pobreza e analfabetismo e a menor expectativa de vida do país. Para se ter uma idéia da gravidade, quem nasce em São Caetano do Sul em São Paulo, líder positiva do ranking, pode viver até o dobro daquele que nasce e vive em Manari e demais cidades citadas.

2295 quilômetros separam Manari de São Caetano do Sul, mas a distância física não é nada se compararmos os fatores de investimentos e presença pública para ambas; entre elas, além de Alagoas, Bahia e Minas Gerais, há um mar interminável de diferenças; em nada estas duas cidades que sustentam as pontas opostas do IDH brasileiro se parecem. Para se comprar melhor cada uma, é como se São Caetano do Sul fosse a Suíça e Manari fosse Serra leoa na África, país com o mais baixo índice de IDH do planeta; apenas para lembrar mais uma vez, Manari e São Caetano do Sul são cidades brasileiras; elas pertencem ao mesmo país e são integrantes da mesma composição de Governo Federal.

Pode-se dizer ainda, que Manari sobreviveria tranquilamente somente do lixo produzido por São Caetano do Sul; isso mesmo! O PIB per capto dos sul-caetanenses é de R$ 63.000,00, enquanto o dos manarienses é de R$ 2.500,00. Não é engano, muito menos manipulação; uma pessoa de São Caetano do Sul ganha em média todo mês duas vezes o que uma pessoa de Manari ganha em dois anos; neste caso específico, qualquer pessoa pode afirmar que uma pertence ao céu e a outra, abaixo do inferno!

Partindo para um âmbito internacional, não há dúvida de que a miséria do mundo está no berço da civilização, a África. Dos 20 mais pobres e miseráveis do planeta, segundo a ONU, todos estão no continente negro. Quem lidera o ranking é o Chade e quanto o tema é alfabetização Serra Leoa é aonde há mais pessoas sem a menor noção de critérios da leitura e escrita; quando a média entre analfabetismo e pobreza é fundida, Burkina Faso é quem merece maior destaque.

Em Burkina Faso a renda per capta consegue ser ainda menor do que em Manari. Segundo a ONU um cidadão burquinense vive com R$ 2.100,00 por ano e se alguém imagina que todo o problema daquele povo está baseado em pobreza e analfabetismo, estão enganados. Tudo em Burkina Faso é diferente do restante do planeta a começar pelo regime de Governo. No país africano o regime governamental é o semi-presidencialista; 10,4% dos que nascem, morrem antes de completarem um ano de vida e as tribos mais antigas da África Ocidental, acostumadas aos dialetos seculares, conflitam-se com o resto da população que somente fala francês.

Pode não ser o mais pobre ou o mais analfabeto, mas Burkina Faso é sem dúvida um dos mais fortes candidatos a jamais sair do eterno abismo que o separa do restante do mundo. A população de quase 14 milhões de sorumbáticos não consegue ultrapassar a barreira dos 50 anos de vida; 90% deles sobrevivem da agricultura de subsistência que sempre está vulnerável pela constante escassez das chuvas.

Na ponta privilegiada dos mais afortunados em termos de qualidade de vida está a Noruega; bem pertinho do índice de qualidade de vida norueguês está também a Austrália; países que dão um banho em organização política, investimentos públicos e satisfação da população. E para quem imaginou os Estados Unidos, Suíça ou Japão, ledo engano: USA ficou com o 4º lugar; Japão com o 11º e a Suíça com 13º lugar no mais novo IDH. Nosso querido Brasil não se encontra na lista dos 42 primeiros colocados, que são os considerados com índices muito elevados de qualidade de vida; nós aparecemos em 73º lugar, abaixo de: Chile (43º), Argentina (46º), Uruguai (52º), Panamá (54º), México, Peru e Irã; até a desgraçada Venezuela está pertinho de nós com o 75º lugar no ranking.

Por falar em Noruega, o guerreiro gelado da Europa não perde o trono desde 2001; foi ligeiramente ultrapassada pela Islândia em 2008 e 2007, mas logo em seguida retomou seu lugar mais alto no destaque da dignidade humana. Um cidadão norueguês ganha em média R$ 120.000,00 por ano e por terem uma população muito pequena, menos do que a cidade de São Paulo, fica muito mais fácil administrar uma fortuna que geralmente é completamente revertida para o próprio povo. Podemos afirmar que viver na Noruega com um emprego médio é muito melhor do que ser Governador de muitos Estados brasileiros ou Presidente de muitos países do mundo!

E não se trata de fortuna; a Noruega não está entre os mais ricos do planeta. Países que são só riqueza como Kuwait e Arábia Saudita, que estão encima de petróleo, aparecem em 47º e 55º respectivamente. O sultanato do Brunei, 100% petróleo e onde vive o monarca mais rico do mundo; onde as pessoas praticamente não pagam por nada e vivem muito bem, aparece em 37ª lugar, abaixo dos Emirados Árabes Unidos, onde fica a moderna Abu Dabi, que ocupa o 32º lugar no ranking último. É a prova viva que se o dinheiro fosse tudo, eles já teriam comprado a felicidade!

Até onde se pode pesquisar, pela lista da ONU de 2009, o país mais miserável do planeta é o Zimbábue com uma média per capta de renda de R$ 474,00 por ano e analfabetismo beirando 90%. Quem nasce no Zimbábue, se sobreviver a taxa de 6% de mortalidade infantil, não espera chegar aos 44 anos; quem passa desta idade é facilmente considerado ancião ou sortudo.

Ao contrário de Burkina Faso que está no alto do mapa africano, o Zimbábue está na parte baixa, mais próximo do Oceano Índico e pertinho da África do Sul. Falar sobre o Zimbábue e não citar o genocida Robert Mugabe, há seis mandatos consecutivos no poder, é como falar do Vaticano e não citar o Papa. O país sempre viveu das esmolas do mundo e jamais teve uma data para comemorar qualquer que fosse a vitória. A nação africana com mais de 13 milhões de miseráveis adestrados se arrasta entre as mais desgraçadas do planeta há décadas e ninguém de lá ou de qualquer outro canto do planeta jamais fez nada para tentar mudar esta trajetória histórica de pavor, medo e morte.

E assim será o mundo enquanto ele existir; poucos com muito e muitos com nada. Enquanto pacotes de trilhões de dólares são destinados para salvar bancos que faliram há décadas, mais da metade da população do mundo busca alguns centavos para poder matar a fome; com exceção de poucos países africanos como a África do Sul, quase a totalidade africana vive numa linha que já se perdeu naquele horizonte que dizem sem abaixo da indigência, mesmo com o potencial enorme para o turismo.

Na América, num dos lugares mais lindos do planeta como o Caribe, ainda enxergamos nações como Belize, Honduras e Haiti que permanece, nos mesmos níveis das nações africanas. Mais uma vez o potencial turístico somente é explorado em pequenas faixas de terras isoladas dos grandes bolsões de pobreza. O mesmo pode afirmar de povos milenares como muitos asiáticos, que ao invés de explorar o turismo em prol da dignidade humana, se perdem em dogmas ultrapassados e arcaicos.

Fazendo um rápido raio-x destas nações desafortunadas onde o povão come fezes, quando encontra e bebe água do esgoto, quando também consegue encontrar; toda a má sorte é fruto da política e/ou da religião. Salvo raríssimos fatores climáticos crônicos ou geográficos, os mais ricos sempre quiseram investir no desenvolvimento dos mais pobres e isso é notório; como também é fato que quem investe um, com certeza buscará dois de retorno, porque nem Jesus Cristo deu nada material a ninguém; mas os costumes, a prepotência, a usura, a ignorância e a tirania acabam afastando qualquer oportunidade de investimento e mudança de rumo destes povos.

Qual empresário ou Governo sério e com pleno juízo acreditaria em gente como Ahmadinejad, Hugo Chávez, Robert Mugabe ou Kadafi da Líbia? Quem em pleno gozo das faculdades mentais poria qualquer centavo de investimento hoje no Haiti, no Zimbábue, na Bolívia, no Afeganistão ou no Iraque?

Estes países precisam ter governos voltados ao bem estar social; precisam afastar a religião do Governo, para que se possa começar a acreditar que qualquer investimento será pelo menos respeitado. Grandes fortunas migram para países onde a justiça é comprometida em defesa da constituição e fogem das constituições que são feitas em papel higiênico usado. Tudo isso influencia na geração de empregos e diretamente na qualidade de vida de quem trabalha nos novos empreendimentos. Felizmente o turismo é um grande expoente, porque os mais abastados querem e podem conhecer novos lugares, lugares exóticos e se eles conseguem visitar o Rio de Janeiro e sobrevive a onda de violência, com certeza o fariam no Haiti ou no Afeganistão ou ainda no Zimbábue.

Manari em Pernambuco dista apenas 200 km do mar que, diga-se de passagem, um dos mares mais lindos do Brasil; não seria a hora de programar algo que ligasse o turismo de quem visita as belas praias entre Pernambuco e Alagoas a cidade mais pobre do Brasil? Pode parecer esdrúxulo e até utópico, mas alguém precisa pensar em algo e outro alguém precisa por em prática qualquer coisa que indique em amenizar o sofrimento dos mais pobres do mundo, caso contrário veremos em breve uma multidão de zumbis e não de pessoas!

Como podemos definir a Noruega o Zimbábue e o Brasil? O primeiro é bom demais, porque nele há respeito a todos; o segundo é ruim demais, porque não há respeito algum para ninguém; já o Brasil, respeito aqui somente para quem participa da política e tem a sorte de estar do lado de quem vence, ou quem alimenta a máquina, salvo contrário, quem sobra vive como no Zimbábue!

Pode parecer uma crítica ao Governo, mas não é só isso! O Brasil precisa abrir os olhos para os famintos e os necessitados; pessoas de bem que vivem muito mal e que geralmente estão no Nordeste e no Norte do país; pessoas que muitas vezes são identificadas como brasileiras apenas pelos documentos e nada mais. Quem chega a São Paulo ou no Rio de Janeiro e observa milhões de pessoas comendo bem, curtindo a vida com seus laptops modernos e suas redes wireless, não imagina que ali bem pertinho, como em Marari, às vezes tem que se comer cacto cozido em sal para matar a fome e beber água de cacimba, poço comum no Nordeste, para não morrer de fome ou de sede.

Está duvidando? Toma coragem e vai lá ver de perto! Eu conheço centenas de “manaris” e milhares de pessoas que vivem iguaiszinhas as pessoas do Zimbábue, às vezes pior; mas é mais fácil criticar Robert Mugabe do que o Presidente Lula, seja por comodismo, seja por temor!

Eu posso afirmar tudo isso, porque conheço parte da miséria do mundo. Quando estive a primeira vez no México, não fui para Cancun ou Acapulco, fui para Chihuahua; no Marrocos, eu fui para lá de Marrakesh, mas estive em Tétouan; no Paraguai, não fui fazer compras, visitei San Lorenzo e Caacupe e na Argentina, ao invés de Buenos Aires, visitei Santo Tomé. Se quiserem ver sofrimento e não estiverem dispostos a visitar Manari, por vergonha, vão nestes lugares; lugares onde a palavra “sorte”, além do dicionário, significa viver um pouco mais!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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Enviado por CHaMP Brasil em 18/11/2010
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