ESTRANHAS COINCIDÊNCIAS

Procurava num livro de Geografia a localização da Sicília e de Siracuza. Estão lá , cercadas pelos mares a partir do Adriático , ilha e cidade na Itália . De repente , sinto um aperto no peito , feito prelúdio de ataque cardíaco. E não sei por que motivo comecei a pensar nos meus anos de escola normal . Aproveito a solidão em casa , fecho os olhos e me vejo aos vinte anos de idade , dentro da sala de aula , braços por sobre a carteira e as mãos segurando o queixo . Minha respiração paralisada , o olhar reto e também não sentia os pés . Ouvia apenas a voz do meu professor falando, falando ... A nítida sensação de que toda a escola havia sumido no ar, que não existia mais ninguém além de mim . Pensamentos desconexos , absurdamente coloridos , enfumaçando a minha cabeça . Meu Deus , estaria ficando doida ? Não, não. Era tudo muito real , no plano físico . Eu , sempre guardando segredos de morte, esforçando-me em disfarces porque os meus olhos , sempre muito grandes, conduziam-me para a traição , lacrimejando excessivamente . “Oh , você está chorando ...” - diziam . Eu balançando a cabeça num sim, imediato e apavorado. Mas aí, a agonia cede lugar ao pânico pois fazia mais de uma hora que eu estava mergulhada naquele flash back . Vim retornando ao meu tempo , aos meus quarenta e três anos , bem no meio de um redemoinho , meu filho mais novo entrando em casa correndo , largando a pasta da escola bem aos meus pés , como de costume . Garotinho danado , este meu filho!

A televisão permaneceu ligada . O livro , aberto em cima do sofá sem que eu conseguisse entender como tinha sido colocado ali . E no programa que havia começado há poucos segundos uma estória , narrando detalhes semelhantes às situações de premonição . Os personagens eram italianos mas de tempos diferentes , uma distância de vinte e três séculos . Um da Sicília , outro de Siracuza . Mesmas ocupações , professores e físicos . Querem saber ? Jamais gostei dos números nem da exatidão macabra presente em suas relações , livros afora . Alguém dizia que eles resolveram desaparecer assim que tomaram consciência dos efeitos de suas descobertas . Nada revelaram nem deixaram escrito por causa do pavor . O Siciliano embarcou a caminho de outra cidade , Palermo , em vinte e seis de março de mil novecentos e trinta e oito . O de Siracuza , no meio de um dos seus devaneios de geômetra a beira mar, deixou-se vazar pela espada de um soldado , este já tonto por conta do final de mais uma batalha sangrenta . Viveram financiando as desgraças dos conflitos humanos através de suas teorias e invenções . Tinham sido felizes ? Certamente que não. Podia ser que eu estivesse bem perto do que eles sentiram , no derradeiro instante , escolhendo também fugir através dos anos para não me permitir à própria revelação , o insight . O coração parecia estar quebrando , partindo-se em milhões de pedacinhos . Mas não doía .

Lembrei das Guerras Púnicas da antiguidade , da bomba em mil novecentos e quarenta e cinco , dos horrores do vulcão Etna , como se acontecessem na minha frente pela primeira vez . Quem eram os personagens da estória , na tv ? Ah , sim . Desculpem a distração : Étore Majorana e Arquimedes . Desde então , como se fosse pela mágica dos tempos do rei Arthur , a minha visão tornou-se igualzinha a do Super-Homem ...

Josí Viana

Josí Viana
Enviado por Josí Viana em 18/11/2010
Reeditado em 11/02/2013
Código do texto: T2623183
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