Sanguessugas

Os risos das hienas ecoam e batem em meu peito como duas facas, cravadas cruel e friamente.

O vento tempestuoso anuncia que a chuva vem inundando tudo que houver em seu caminho.

A escuridão é tão densa que posso tocá-la e me sinto parte dessa imensidão sem cor.

O cheiro de podridão revela que o beija-flor por aqui não mais passará;apenas abutres para devorar qualquer vestigio de vida que ainda exista.

As águas do oceano secaram e um imenso abismo apareceu,abismo este que sempre existiu ,porém,somente agora sinto sua imponente presença,que me separa do restante do mundo.

Cães do deserto farejam algum alimento em meio ao nada;o nada encontram e retornam, querem a mim para ser o lanche das 6hs.

O álcool não me sobe mais a cabeça,os dias parecem intermináveis;o relógio parou.

Acordo assustada, pensando se tratar de um pesadelo,porém é tudo real e estou sendo devorada viva.A morte parece não existir.Enquanto desejo sair deste pesadelo,vejo meus membros serem destroçados por roedores,cães e abutres.Todos em união para alimentarem-se de mim.

Que tolos!Para acabar com esta tortura devem logo comer meu cérebro;meu fôlego e minha vida se encontram onde meus pensamentos estão.

Estão quase chegando ao peitoral.É tao doloroso e, ao mesmo tempo,tão confortante saber que estão quase terminando.

Arranquem logo este meu coraçao que tanto me faz sofrer!Devorem-me rapidamente para que eu não mais sinta a dor d'alma!

Agora que estão fartos,simplesmente se afastam e deixam minha carcaça inerte para que se decomponha lentamente.

Inúteis!Nem para acabar com minha existência são capazes.Mesmo que não possa rastejar ou falar,ainda estou aqui.Tenho consciência de quem sou,sei que existo.Ainda vivo!

Em meio a sequidão e poeira,posso ouvir passos...alguém se aproximando?...Será meu salvador depois de tanta desilusão e sofrimento???...

Meus olhos se fecharam.

Wanuzia Braga
Enviado por Wanuzia Braga em 18/11/2010
Código do texto: T2622072
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