foto:ligadajusticapopular.blogspot.com
A “Receita”, a Mulher, a Fome...
“Se o que nos consome fosse apenas fome/Cantaria o pão/Como o que sugere a fome / Para quem come/Como o que sugere a fala/Para quem cala/Como que sugere a tinta/Para quem pinta/Como que sugere a cama/Para quem ama...”
Palavra Acesa - Fernando Filizola
Qualquer lugar é um bom lugar para se sentir e ouvir a alma humana se expondo no que há de melhor ou pior e eu, ré confessa de observar a vida, aproveito qualquer lugar para ouvir boas histórias.
Mesmo de nariz enfiado num livro, dia desse meu ouvido curioso captou uma conversa numa sala de atendimento de banco. A leitura não era lá essas coisas e fiquei atenta a conversa (coisa feia!) da poltrona atrás da minha, que estava mais interessante: duas mulheres conversavam sobre vida e casamento e uma falava de como sua filha mais nova, “mimada e impaciente” não “soube segurar” o marido.
Repetia para a amiga uma velha ladainha que já ouvi outras vezes. Dizia que sua avó, uma mulher austera, com princípios religiosos quase fundamentalistas sempre lhe aconselhava: “Minha neta, não deixe seu marido sair de casa “precisado”. O homem tem umas fomes que nós não temos (sic) e quando ‘tá precisado' vai resolver... Preste atenção na suas obrigações de dona de casa e mãe mas não descuide de suas obrigações de esposa, mesmo que não goste.”
Não tenham dúvidas do quanto fiquei com vontade de “meter minha colher” naquela conversa, mas ser curiosa é uma coisa, mal educada é outra. E, mordida pela curiosidade, fiquei quieta esperando o desfecho da conversa. Estava claro que as “obrigações” a que “vovó” se referia era ao sexo mas certamente ela não pronunciaria essa palavra em público.
Olhei de soslaio e vi duas mulheres aparentando pouco mais ou pouco menos que 50 anos. A que falava agora atribuía a longevidade de seu casamento aos sábios conselhos de sua “santa avó, que Deus a tenha”.
Mais do que depressa a outra retrucou: “Que nada, mulher! Eu também nunca descuidei disso e ainda assim o safado foi embora”!E as duas ficaram numa arenga de quem “fez direito”, de quem não fez...
Não pude deixar de rir do rumo inusitado da conversa. Pensei: “Vai ver a fome dele era outra...” E me desliguei, pois rapidamente elas entraram no assunto “empregadas domésticas” e esse, definitivamente, não me interessou.
Contudo, a partir da conversa delas, fiquei pensando que certamente entre a avó e a filha mais nova daquela senhora havia, no mínimo, algumas gerações e, no entanto ela aconselhava a filha do mesmo jeito... Será que evoluímos tão pouco? A “receita” é ainda a mesma?
A responsabilidade e empenho em manter uma relação, a partir “da receita” deve ser da mulher... Se não “dá certo” é porque foi “negligente”...E muitas mordem a isca da culpa.
Mas, para manter o humor, fiquei imaginando um tipo de “vovó” que aconselhasse um NETO com a mesma desenvoltura.
Diria ela: “Meu neto, não deixe sua mulher sair ou ficar em casa “precisada”, pois a mulher tem as mesmas fomes que você, embora nem sempre adote o mesmo jeito de resolvê-las. Lembre-se que ela não precisa apenas de comida e pouso. Precisa, como você também de atenção, carinho, de ser admirada, desejada, amada. Gosta de chamego? De ser bem tratado, meu neto? Então trate sua mulher assim!
Será que um dia ouviremos dizer que uma Vovó falou assim com seu neto?
Será?
A “Receita”, a Mulher, a Fome...
“Se o que nos consome fosse apenas fome/Cantaria o pão/Como o que sugere a fome / Para quem come/Como o que sugere a fala/Para quem cala/Como que sugere a tinta/Para quem pinta/Como que sugere a cama/Para quem ama...”
Palavra Acesa - Fernando Filizola
Qualquer lugar é um bom lugar para se sentir e ouvir a alma humana se expondo no que há de melhor ou pior e eu, ré confessa de observar a vida, aproveito qualquer lugar para ouvir boas histórias.
Mesmo de nariz enfiado num livro, dia desse meu ouvido curioso captou uma conversa numa sala de atendimento de banco. A leitura não era lá essas coisas e fiquei atenta a conversa (coisa feia!) da poltrona atrás da minha, que estava mais interessante: duas mulheres conversavam sobre vida e casamento e uma falava de como sua filha mais nova, “mimada e impaciente” não “soube segurar” o marido.
Repetia para a amiga uma velha ladainha que já ouvi outras vezes. Dizia que sua avó, uma mulher austera, com princípios religiosos quase fundamentalistas sempre lhe aconselhava: “Minha neta, não deixe seu marido sair de casa “precisado”. O homem tem umas fomes que nós não temos (sic) e quando ‘tá precisado' vai resolver... Preste atenção na suas obrigações de dona de casa e mãe mas não descuide de suas obrigações de esposa, mesmo que não goste.”
Não tenham dúvidas do quanto fiquei com vontade de “meter minha colher” naquela conversa, mas ser curiosa é uma coisa, mal educada é outra. E, mordida pela curiosidade, fiquei quieta esperando o desfecho da conversa. Estava claro que as “obrigações” a que “vovó” se referia era ao sexo mas certamente ela não pronunciaria essa palavra em público.
Olhei de soslaio e vi duas mulheres aparentando pouco mais ou pouco menos que 50 anos. A que falava agora atribuía a longevidade de seu casamento aos sábios conselhos de sua “santa avó, que Deus a tenha”.
Mais do que depressa a outra retrucou: “Que nada, mulher! Eu também nunca descuidei disso e ainda assim o safado foi embora”!E as duas ficaram numa arenga de quem “fez direito”, de quem não fez...
Não pude deixar de rir do rumo inusitado da conversa. Pensei: “Vai ver a fome dele era outra...” E me desliguei, pois rapidamente elas entraram no assunto “empregadas domésticas” e esse, definitivamente, não me interessou.
Contudo, a partir da conversa delas, fiquei pensando que certamente entre a avó e a filha mais nova daquela senhora havia, no mínimo, algumas gerações e, no entanto ela aconselhava a filha do mesmo jeito... Será que evoluímos tão pouco? A “receita” é ainda a mesma?
A responsabilidade e empenho em manter uma relação, a partir “da receita” deve ser da mulher... Se não “dá certo” é porque foi “negligente”...E muitas mordem a isca da culpa.
Mas, para manter o humor, fiquei imaginando um tipo de “vovó” que aconselhasse um NETO com a mesma desenvoltura.
Diria ela: “Meu neto, não deixe sua mulher sair ou ficar em casa “precisada”, pois a mulher tem as mesmas fomes que você, embora nem sempre adote o mesmo jeito de resolvê-las. Lembre-se que ela não precisa apenas de comida e pouso. Precisa, como você também de atenção, carinho, de ser admirada, desejada, amada. Gosta de chamego? De ser bem tratado, meu neto? Então trate sua mulher assim!
Será que um dia ouviremos dizer que uma Vovó falou assim com seu neto?
Será?