O TEMPO E A DECADÊNCIA

O TEMPO E A DECADÊNCIA

Estivemos na associação de trabalhadores aposentados da Celpe, empresa pela qual nos aposentamos; reencontramos alguns daqueles colegas que conosco compartilharam o cotidiano daquela empresa. Conversa vai, conversa vem, daí a pouco estávamos a relembrar fatos reais e pitorescos outrora vivenciados. Nos surpreendemos com a decadência estampada no rosto de cada um deles!... espelho acabado e esculpido de nossa própria decadência...

Relembramos algumas figuras daquela época, na qual o esplendor da mocidade e a vaidade desmesurada as faziam agirem de maneira impensada e injusta, a mostrar o desprezo que devotavam aos seus iguais.

Hoje, patéticas figuras de um passado recente, vislumbramos, equivocadamente, pessoas cordatas, merecedoras de respeito; ledo engano. Foram useiras e vezeiras em se apequenarem diante de situações em que se põe à prova o caráter humano.

Esqueciam elas que mais cedo ou mais tarde estariam sofrendo os desgastes naturais do tempo passado, pois este irroga a todos os seres humanos, sem distinção, sutilmente, sorrateiramente, a vergasta do enfraquecimento, do desprestígio, da debilidade física, acompanhada no mais das vezes por doenças de toda ordem.

Ainda bem que o poderoso tempo passado é provedor/reparador das alegrias, das tristezas, das decepções, das maldades, ao contrariar tudo aquilo que o poeta Manoel Bandeira “imaginou impregnado de eternidade”.

Ah! tempo passado... bendito tempo passado, a exemplo da morte a ninguém excluí, ao aplicar sem indulgência o açoite de forma igualitária, a nos obrigar a reconhecer as limitações de nossa finitude.

Ah! tempo passado... bendito tempo passado, a percepção e a maturidade nos advertem que o crepúsculo da vida nos ronda, a nos obrigar ao exercício da purgação; é o “capitis diminutio”, em sua marcha lenta e gradual rumo ao etéreo mundo do imponderável.

Ah! tempo passado... bendito tempo passado, continua, apesar de tudo, a nos dotar do mínimo de energia para que possamos continuar a cultivar e a trilhar o caminho por nós escolhido, o caminho da lealdade, da gratidão e da justiça, sem regatear em nenhum momento do amor que “UM DIA IRÁ REGER O MUNDO E SER PARADIGMA DA PAZ”.

Isso nos faz lembrar o poeta Pablo Neruda: ”assim continuarei seguindo este caminho, porque, creio, levar-nos-á, a todos, a uma convivência amiga e duradoura.”

Ah! tempo passado, bendito tempo passado, estaremos, assim, em paz com a nossa consciência a praticar à saciedade a grande lição legada pelo grande arquiteto do universo que é “amar ao próximo como a nós mesmos.” E, quando da chegada da hora final, novamente lembrando Bandeira, “a indesejada das gentes encontrará o campo arado, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar”.

ANTONIO LUIZ DE FRANÇA FILHO

Advogado e aposentado da Celpe.

Membro Honorário da Academia Maçônica

de Letras de Olinda

Loja Maçonica 12 de Março de 1537 - Olinda

e-mail:antoniofranca12@yahoo.com.br

ANTONIO FRANÇA
Enviado por ANTONIO FRANÇA em 17/11/2010
Reeditado em 13/08/2015
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