Na Contramão
Tinha acabado de comprar o seu Chevett, ano 85, branco. Um luxo. Estava toda empolgada, porém quando precisava sair tinha que pedir para alguém dirigir o carro. Ainda não era habilitada e isso a deixava sempre nas mãos dos outros. Teve um estalo: "vou já tirar minha carteira."
Uma semana depois e tudo pronto. As aulas iriam se iniciar e ela estava ansiosa. No primeiro dia, chegou cedo ao local indicado pelo instrutor. O centro comercial Gilberto Salomão, em Brasília. O cara enconstou o carro e ela entrou.
_ Qual o seu nome? - A cara do instrutor não deixava dúvidas quanto a sua responsabilidade. Será?!
_ Darci. “Por que não olhou minha ficha?” - Pensou.
Começaram então a dar voltas e a conhecer as táticas do volante. Depois de uma hora seguida de teorias, explicações e dúvidas tiradas o professor pergunta:
_ A senhora mora onde?
_ No Paranoá.
_ Muito bem. A senhora vai dirigir daqui até lá.
_ Eu?!
_ Claro! Vejo que a senhora é muito atenciosa, aprende rápido. Não vamos ter problemas.
Mesmo com as pernas bambas, dona Darci rumou para o Paranoá. Dirigia até bem, considerando ser aquela a primeira vez. Chegaram na cidade e o instrutor vendo que ela morava num bar não se fez de rogado. Desceu e já pediu uma branquinha. Mesmo surpresa com ele, serviu-o e continuaram a aula (dupla por sinal). O problema foi que a partir de então a cada bar que encontrava (o que no Paranoá é quase raro) o cidadão parava e tomava uma dose. Depois de umas vinte doses, rumaram para a praça do roxo para pegar um outro aluno. Dona Darci então teve de levar o carro, e de lá até o Gilberto Salomão. Depois disso o outro aluno resolveu desistir da aula, já que o seu professor quase o matara no trajeto, tamanho o seu estado de alcoolismo.
Três dias depois, dona Darci foi ter sua aula novamente e se deparou com um novo instrutor. Muito preocupada, depois da aula, liga para a autoescola e pergunta pelo seu antigo professor.
– Ele foi despedido. Aquele sujeito aprontou uma.
– O que houve com ele?
– Depois que ele deixou uma aluna no Paranoá nunca mais o vimos. Só hoje é que ele foi encontrado, todo sujo, completamente embriagado, fedendo a urina e chamando o nome de uma certa Darci.
– Darci?!
– É. A senhora conhece?
– Não. Nunca ouvi falar. O que ele dizia?
– Bêbado, sem noção de nada, ficava repetindo: Darci... eu te amo, Darci. Darci, vem me buscar.
Desligou o telefone com a certeza de que ele não seria mesmo um bom instrutor. Talvez por achar que ele falasse demais. E o nome Darci, era ficção, pois sendo meticulosa e desconfida como todo bom mineiro – de Minas Gerais – achou por bem não se revelar.
Se habilitou dois meses depois, vendeu o bar e entrou para um ONG que defendia as boas maneiras no trânsito. Ah, e continua solteira até hoje. Dizem...