Quase fúria de Titãs
Primeiro vieram as criaturas fabulosas, depois os deuses, depois os homens. E desde então os conflitos não tiveram mais fim. Mas não cabe aqui falar das brigas universais, nem há papel para tanto, podemos no instante falar das briguinhas que habitam o homem na sua pequeninice, mistificadas por três esplendorosos animais: águia, leão e boi. Mas não cabe todavia, esboçar toda a singularidade de cada bicho. Não há que se abusar da paciência dos olhos que passeiam por estas palavras, pois isto não é um tratado científico e nem intenciona o tédio. Aproveitemos da fama da ludicidade e exploremos-na um pouco.
Foi assim que aconteceu... era uma vez a água, o leão e o boi vivendo em perfeita desarmonia, num bosque extremamente próximo. Segue um pouco de cada um:
Águia. Majestosa no seu voar, olhos atentos a cada movimento, regozijo ao sol. Leituras infindáveis, ironia nas garras, bico afiado. Maior parte do tempo se perguntando de onde veio, a que veio e por vezes, para onde seguir voo.
Leão. Um cavalheiro borra-botas. Tem lá suas manias contemplativas, contudo seu gosto pelo melodrama o condena. Ama deveras, sofre por quimeras e cobra atenção desmesurada por parte da ave e do bovino.
Boi. Numa primeira olhada – preguiçoso, um verdadeiro come e dorme. Porém olhando mais demoradamente se percebe uma energia vibrante, que se comunica com os outros dois bichos e admirem – com o bosque!
Contam as péssimas línguas, que vivem em eternas negociações para que o belo bosque não se transforme em uma arena sanguinária. Vai saber o que de fato se passa por cada um deles... e o pior é que inevitavelmente se cruzam perpetuamente. Mas o boi arranjou uma tática, embora pareça ser o “menos” provido intelectualmente, para se ver livre dos dois por breves momentos: propõe o jogo de xadrez.
Ah, o jogo... irresistível para as performances estrategistas da água e sentimentalismo exacerbado para o leão, com seus ataques e defesas felinas. E o boizinho então, caminha tranquilo pela relva, come seus raminhos, feliz da vida. E acabamos por não desvendar de quem é o maior desfrute – dele ou do bosque...