Reprovados viram manchete

À Dilminha

Os garotos reprovados do “neném”, digo ENEM terão que se submeter a lógica pétrea do sistema: sistema nunca erra. Faz pouco tempo que decidi realizar uma dessas fases do ensino com o nome pomposo de pós-graduação. Fui selecionado e fiquei feliz. Cheguei a comentar minha alegria com alguns cerebrais amigos. Os trapos do meu entusiasmo revelavam o seguinte: coisa linda estar em sala de aula, estudar devia ser uma alegria. Devia. Mas essa alacridade durou pouquíssimo. O ensino mercantil industrial serve para discriminar o joio do trigo. O joio é a grande multidão de excluídos e o trigo os queridinhos que conseguiram a vaguinha. Educação então é um ótimo negócio. Educação de Detran. Tudo é negócio e seguindo um velho romano a verdade é que o dinheiro doma tudo.

Estudar devia ser algo fantástico, mas é reprovativo, neurótico, esquizotímico. Carreirista e militarista em sua forma de moldar os pobrezinhos ao mercado de trabalho injusto onde não cabe a maioria. Aprender que deveria ser algo maravilhoso tornou-se amontoado de conhecimento estreitado pela histeria dos prazos. Aprender se tornou obsessão doentia. Doença da excessiva quantidade. Jamais da qualidade das leituras para o conhecimento. É o exercício da exaustão. Conheci quem enlouquecesse de fato por lidar mal com o estreitamento mesquinho das provas fatais. A educação ambientou-se no enquadramento geral de jogo. A vida é um jogo.

E os reprovados? ... Para a zombaria! Por isso estar na escola para muitos é tormento. O tormento de não saber lidar com a verdadeira aptidão. De ter que trabalhar com a obrigatoriedade mental fora do próprio ritmo em desacerto. Por esta razão sou contra a obrigatoriedade do xadrez nas escolas. O xadrez se tornará um medonho tormento para aqueles indispostos de tal atividade. Os professores esfaimados do mundo já não sabem fascinar os alunos. A educação de mercado é sem alma, é peça matemática dura e fria na qual devem todos se ajustar. Para obter melhor renda ou apenas um emprego banal, fraco, escravocrata. Resultando numa evidência estúpida:evasão. E é dessa subjetividade esvaziada que quase ninguém fala que nasce o desejo de encantamento artificial que ninguém quer ver. Que as forças maquinicas pretendem suplantar em sua natural planta de eternidade.

O conhecimento expirou dando lugar a informação pura e simples como rótulo de intelectualidade instantânea. É a informação sem mérito, sem filosofia, sem ciência, exceto aquela de arrecadação faustosa.

No cálculo final há uma única realidade: os reprovados não vão para a escola, viram manchete.

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