EU ADORO


Um dos espetáculos mais bonitos da natureza é um pôr de sol. Com o horário de verão, muita gente pode apreciá-lo depois do trabalho. Sempre que posso vou caminhar na praia para aumentar o séquito de adoradores do astro-rei.
São 18 horas e o céu está em fogo. O astro se despede mergulhando no mar, aos olhos sempre encantados de seus súditos, que param para vê-lo ir desaparecendo, lentamente. As pessoas, então, como saídas de um estado de êxtase, continuam a caminhada, retornando ao papo interrompido, para aquela reverência.
Gosto de caminhar na areia, olhando as ondas e pensando na vida. Hoje, no entanto, me detive diante de dois meninos que caminhavam na minha direção. Pareciam ter sete ou oito anos, tão pequenos que eram. Quando se aproximaram mais, vi que tinham uns dez ou doze, aproximadamente. Eram meninos raquíticos, desnutridos. Cada um carregava uma caixa de isopor, essa hora já vazia. Os dois chegaram, depositaram as caixas na areia, se inclinaram pra trás e para frente, como se as frágeis colunas lhes lembrassem que ainda eram muito pequenos para carregarem tanto sorvete no isopor.
O mar, com piscinas formadas pela ressaca do dia anterior, os convida a entrar.
- Vamos cair? pergunta o mais novo.
Os dois se entreolham, como se cada um esperasse a confirmação nos olhos do outro. O mais velho diz: pega o body boarding.
Os dois entram n’água carregando as caixas, que agora viraram brinquedo, Eles nadam batendo as pernas finas e riem felizes.
- Agora eu sou um peixe, sou um tubarão – diz o menor.
- Pobres crianças que, tão pequenas, precisam caminhar horas e horas pelas areias escaldantes, vendendo sorvete para os mais afortunados. Ainda bem que, mesmo com essa vida dura, ainda podem sonhar e ser crianças, transformando, com um simples faz-de-conta, a caixa de isopor em instrumento de puro prazer.

edina bravo
Enviado por edina bravo em 16/11/2010
Reeditado em 29/05/2013
Código do texto: T2618849
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