A Diaba no próprio Divã

(Najah ÐL®)

Tenho um amigo há mais de trinta anos que quase foi meu marido e zanza na poesia por aqui, cheio de ser o máximo em assuntos de amor. Agorinha ele me perguntou o que eu achava do amor. Achei graça de ser justo ele a me perguntar isso.

- Ora, o amor é... Caramba... o amor é o que mesmo? É legal? É sim. Faz bem? Ô! A gente precisa dele? Precisa. Ele é tudo? Bem... aí já não sei.

Sentei no meu divã todo empoeirado; hoje sou eu quem precisa ir por esse caminho de expurgo.

Pensei nos amores reais e verdadeiros que se tem na vida. Por exemplo, meus pais. Amo-os de maneira absoluta. Jamais terei ex-pais. Sempre serão e existirão na minha vida. Pensei nas minhas filhas; uma biológica e uma adotada. A biológica dedica-se às ciências exatas, não curte letras, gosta só de física, química, brinca com dinamite, ácidos e demais e eu a amo de forma absoluta. Embora não tenha o veio da letra, tem amor transbordante no coração. Jamais será minha ex-filha. Existirá na minha vida para sempre. Pensei na outra, na minha adorada filha adotada. Essa sim, essa gosta de letras, de poesia, é uma bruxinha aprendiz que está sempre comigo. Faz poesia e anda por aqui também, com suas letras maravilhosas e segura minha onda o tempo todo. Amo-a de maneira absoluta. Jamais será minha ex-filha. Existirá na minha vida para sempre.

E aí cheguei no outro amor, no amor ao homem, no amor pelos homens. Esse amor é questionável. Não será amor? Porque esses outros 'amores' a gente transforma em ex a qualquer hora. Há amor às causas, que a gente troca, abraça outra. Há amor pelo país, que a gente curte, mas vai pra outro. Há amor por um homem, que a gente larga e arruma outro.

Por mais que se clame independência, somos todos interdependentes em algum aspecto e acho que aí é que reside todo esse larga/pega/pega/larga. Quando não encontramos o respaldo necessário ao sentimento, simplesmente mudamos. E volto a pensar: mas alguns amores são certos e estarão presentes independente de qualquer coisa e outros podem ser trocados por qualquer coisa, então, não seria amor, se a própria definição de amor é justamente a abrangência e sua incondicional dedicação?

Boa pergunta você me fez, meu caro. Agora vou ruminar isso até não sei quando...

Najah DL
Enviado por Najah DL em 11/10/2006
Reeditado em 11/10/2006
Código do texto: T261840