Encontros felizes, desencontros infelizes
Adoniran Barbosa, em imortal composição, reclama a frustração do compromisso não cumprido. Canta-nos que Ernesto os convidou para um samba, onde mora, no Brás, e lá todos foram, em dia e hora e marcada, e não encontraram alguém. “Isso não se faz, Ernesto”, repetidamente, até hoje, desabafa o povo mágoas semelhantes de comprometimentos não cumpridos. Há quem perca amizade por conta disso: promete, e não vem, sem deixar “bilhete na porta”. Ora, encontro prometido, com quem se goste e com quem se tem amizade, causa sabor de benévolo. A indiferença de quem não esteve no lugar marcado, com a conhecida justificativa de que esqueceu, causa a sensação de que pouco valia quem o convida.
Os bichos não fazem assim; não possuem relógio, agenda ou calendário, mas são fiéis e mais responsáveis do que os homens nos seus compromissos. Andam, correm, nadam ou voam milhares de quilômetros, distâncias enormes, cruzam o mar e mudam de continente, sejam morcegos, caranguejos, peixes ou arribaçãs, lá estarão para o encontro marcado por eles com a natureza. Os salmões prateados são exemplo disso: nascem nas correntes frias do Noroeste do Oceano Pacífico; nadam até o Pacífico Sul e lá atingem sua maturidade física e sexual para o encontro da procriação dos seus filhotes. Depois disso, como fosse um ritual, nunca deixaram de voltar pelas encostas chilenas, em direção aos mares do norte, para outros eventuais encontros ou compromissos em períodos, estações e datas “agendadas” na natureza.
Já presenciei pessoas desapontadas, com o banquete pronto, em vão, à espera do “amigo” convidado; belas mulheres, com os olhos lacrimejando, na bilheteria do cinema ou sentadas sozinhas no banco da praça, aguardando o “namorado” que prometeu vir e, sem desculpas, não veio; percebi constrangimentos na família que verificou, na cerimônia de casamento da filha, a ausência do casal testemunha; contornei a decepção do pai que chamou o “melhor amigo” para ser padrinho do filho e, na hora do batizado, ele teve de improvisar um outro compadre. Enfim, estas situações vexatórias não só incomodam, ferem a sensibilidade de quem não tem amizade ou amor correspondido, na maioria das vezes, por comodismo de quem preferiu descansar em casa de pijama ou por não considerar a amizade ou o amor de quem o esperava. Sem lhe fazer pergunta, um amigo, observador das aves e especialista em ornitologia, explicou-me que os pássaros que se amavam no meu jardim, vieram do além-mar, pousando e repousando em barcos, ilhas e naves. E que, certamente, como os salmões, nunca se perderão na volta, nem tampouco esquecerão, nos dias e noites, a hora da volta para viverem, em noites e dias, outros sempre felizes encontros.
www.drc.recantodasletras.com.br
Adoniran Barbosa, em imortal composição, reclama a frustração do compromisso não cumprido. Canta-nos que Ernesto os convidou para um samba, onde mora, no Brás, e lá todos foram, em dia e hora e marcada, e não encontraram alguém. “Isso não se faz, Ernesto”, repetidamente, até hoje, desabafa o povo mágoas semelhantes de comprometimentos não cumpridos. Há quem perca amizade por conta disso: promete, e não vem, sem deixar “bilhete na porta”. Ora, encontro prometido, com quem se goste e com quem se tem amizade, causa sabor de benévolo. A indiferença de quem não esteve no lugar marcado, com a conhecida justificativa de que esqueceu, causa a sensação de que pouco valia quem o convida.
Os bichos não fazem assim; não possuem relógio, agenda ou calendário, mas são fiéis e mais responsáveis do que os homens nos seus compromissos. Andam, correm, nadam ou voam milhares de quilômetros, distâncias enormes, cruzam o mar e mudam de continente, sejam morcegos, caranguejos, peixes ou arribaçãs, lá estarão para o encontro marcado por eles com a natureza. Os salmões prateados são exemplo disso: nascem nas correntes frias do Noroeste do Oceano Pacífico; nadam até o Pacífico Sul e lá atingem sua maturidade física e sexual para o encontro da procriação dos seus filhotes. Depois disso, como fosse um ritual, nunca deixaram de voltar pelas encostas chilenas, em direção aos mares do norte, para outros eventuais encontros ou compromissos em períodos, estações e datas “agendadas” na natureza.
Já presenciei pessoas desapontadas, com o banquete pronto, em vão, à espera do “amigo” convidado; belas mulheres, com os olhos lacrimejando, na bilheteria do cinema ou sentadas sozinhas no banco da praça, aguardando o “namorado” que prometeu vir e, sem desculpas, não veio; percebi constrangimentos na família que verificou, na cerimônia de casamento da filha, a ausência do casal testemunha; contornei a decepção do pai que chamou o “melhor amigo” para ser padrinho do filho e, na hora do batizado, ele teve de improvisar um outro compadre. Enfim, estas situações vexatórias não só incomodam, ferem a sensibilidade de quem não tem amizade ou amor correspondido, na maioria das vezes, por comodismo de quem preferiu descansar em casa de pijama ou por não considerar a amizade ou o amor de quem o esperava. Sem lhe fazer pergunta, um amigo, observador das aves e especialista em ornitologia, explicou-me que os pássaros que se amavam no meu jardim, vieram do além-mar, pousando e repousando em barcos, ilhas e naves. E que, certamente, como os salmões, nunca se perderão na volta, nem tampouco esquecerão, nos dias e noites, a hora da volta para viverem, em noites e dias, outros sempre felizes encontros.
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