Não moro, eu convivo!
Eu não tenho casa, na verdade só residi num ambiente que pudesse ser chamado de casa até os dezenove anos, quando fiz a escolha errada e engravidei de um doido e minha mãe me botou pra correr de casa. A casa que havia me acolhido por dezessete anos, onde eu tinha o meu quartinho, minhas coisinhas, enfim, isso é outra crônica.
Mas voltando ao fato de não ter casa. É a pura verdade: minha mãe me botou pra correr de casa aos dezenove, quando descobriu minha gravidez precoce. Daí fui morar com o louco na casa da futura sogra (olha a situação, amigo, se você ja passou por essa, sabe exatamente do que eu estou falando). Que inferno! durou cerca de uns poucos anos, então minha mãe teve pena de mim e me acolheu na casa DELA (note que antes me referi ao meu lar como minha casa, mas o leitor deve saber que depois que saimos de casa, deja para que lugar for, se não der certo, voltamos como visita, não como familia). Enfim, a filha pródiga à casa torna, mas as coisas não eram as mesmas...
Lá pelos vinte e dois, a escolha errada assola meu caminho novamente e eu opto por ela. Percebo agora que esta escolha errada e eu só podiamos ter um caso de vidas passadas ou karma ou seja que diabo de nome for! Engravidei de um cara casado que morava na minha rua!!! ESCÂNDALO!! __ disse minha mãe! (adivinha o que ela fez?) Lá vou eu, morar num quartinho com uma menina pequena e um bucho. Daí vieram inúmeras mudanças, mas nada que pudesse ser considerado um lar. O "cagamento", o segundo, o cara que era casado e largou a esposa pra ficar comigo, o dito cujo com quem cometi o disparate de conviver por dez anos, acabou. O leitor ja deve imaginar para onde eu segui, nesta odisséia.
Claro, acertou quem disse que voltei para a casa DELA, da mamãe.
Tempo vai, tempo vem, já faz mais de um ano que eu moro na antessala de jantar da casa dela, e meus três filhos( é, eu reincidi, mas desta vez foi com o mesmo cara, aquele, o que era casado).
Nos fins de semana, eu moro num apartamento, que também não é meu, é da pessoa com quem eu me relaciono há quase sete meses. (Olha o karma ai gente!!), não, não se assustem! Dessa vez eu não engravidei, nem vou! O porquê fica por conta de vossa imaginação.
Mas vida de apartamento não é lá essas maravilhas como pintam os adeptos a este tipo de moradia. Entremos agora no plano dos cinco sentidos: O olfato, por exemplo: dá pra sentir no terceiro andar o que a vizinha do primeiro cozinha! Tem uma vizinha de um bloco que acredito ser o vizinho a este onde estou que cozinha todo fim de semana a partir da meia noite! Imagine a situação: eu, quase caindo nos braços de Morfeu, enveredando vertiginosamente para o inferno de Dante, à meia noite, por conta de um cheiro delicioso que atiça meus neurôninhos outrora adormecidos, agora em polvorosa, despertando aquela fominha típica da noite. Num apartamento cuja criatura proprietária vive eternamente de regime!
Pra não falar no sentido da audição: Onde está a privacidade? PELO AMOR DE QUALQUER COISA,onde está a privacidade? Tem uma vizinha que parece ter um plano de operadora de telefonia móvel, que lhe dá o direito de falar pelos cotovelos (se os cotovelos dela falassem, garanto que eles também estariam inclusos no plano "fale à vontade"). Sabe aquela musica:"da janela lateral, do quarto de dormir..."? É exatamente de onde esta dita cuja conversa aos fins de semana. Ah!, mas a vingança é um prato que se come quente! E não, eu não errei no provérbio! A palavra é quente! Fogo da paixão! Aquele SEXO ANIMAL que põe pra correr qualquer um! Pois é, quando a noite cai, eu e meu bem, caprichamos nos gemidos e sussurros NADA ABAFADOS que só faltam derrubar as estruturas do já não tão novo bloco de três andares. Já que ninguém se incomoda em incomodar, a gente também não se incomoda. E casualmente, de quando em vez, alguém bate na parede conjugada à do nosso quarto, daí eu respondo assim: "Calma, a gente tá só dando um tempim, daqui a pouco tem mais..."Neste exato momento, enquanto estou escrevendo, tem alguém "barulhando".
O fim de semana se vai e com ele a minha estadia na casa de outrem para voltar à casa de outrem, afinal, casa ainda não tenho. Que bom que eu moro no Brasil, o país dos feriados, assim os fins de semana, por mais barulhentos que sejam, são prolongados e sempre estou em boa companhia. Sorte, tenho muita! As pessoas gostam de mim, e assim vou levando a vida: dias na casa de uns dias na casa de outros até encontrar minha casa, pois como ja dizia Dorothy: "Não há lugar como nosso lar!"