BARATA: MEDO, NOJO E SUSTO.

 

Neste domingo me assustei comigo mesmo. Não me lembro se isto aconteceu alguma vez, mas asseguro que é uma sensação esquisita. Susto acontece geralmente na relação nossa com o que nos cerca. Quem tem medo de cobra, se assusta fácil com qualquer coisa que a lembre. Desta forma, podemos posicionar o medo como um pré-requisito para boa parte dos sustos. Outros elementos, até mesmo invisíveis nos assustam principalmente os relacionados com a morte. Contudo, a ABSTRAÇÃO é forte elemento indutor ao susto. Dependendo do grau da abstração, pode-se ter um susto cujas conseqüências são imprevisíveis. Há casos registrados de princípio de infarto, por conta de susto nessas condições. Assustar-se pela abstração tira das pessoas o raciocino lógico acerca da simbologia do objeto proporcionador do susto. Uma pessoa sozinha, introspectiva, diante de um “grito” perto de si, reagirá de forma inesperada, pois a razão não funciona em sua totalidade nesta ocasião. Outra forma de susto que se confunde com medo acontece diante de objetos decodificados por nós, sob diversas formas de projeção. BARATAS! Há quem não tenha medo, mas nojo. O mais esperado seria mesmo “nojo” de baratas, por toda história de sujeira delas. Mas as pessoas parecem preferir o nojo ao medo. Neste caso, há um viés psicanalítico: o inseto “barata” estaria muito ligado ao inconsciente – geralmente quando se fala em barata, logo vem à mente o pé em cima dela, ou o chinelo pra matá-la. Não estaria aí, no inconsciente de boa parte das pessoas o medo de serem pisadas, humilhadas, na vida? Afinal, a bicha rasteja! Mas tudo isto pode ser dessecado pelos psicólogos e já foi objeto de estudos de Eduardo Mascarenhas, conhecido psicanalista brasileiro.

Acho lógico o nojo que algumas pessoas têm das baratas. Por que medo delas? Uma cobra desperta medo; um leão, idem. Mas uma barata? Então a questão psicanalítica e o nojo caem bem nesse contexto do susto. Objetivando a questão: há quem de fato tenha nojo de baratas, mas há quem, em nome de nojo, tenha mesmo é medo delas no viés da psicanálise... A projeção aí se estabelece como forma de traição de conceitos.

O susto é social, como vemos. O meu susto, além de social, foi idiossincrático, surpreendente, esquisito. Assustei-me comigo mesmo rindo. Isto, sorrindo. Sozinho em casa, vendo televisão, alguma coisa me levou ao riso. Quando eu ouvi meu riso, tomei um susto. Então percebi que não costumo rir sozinho, ou melhor, faço isto por dentro. Loucura? Pode ser! Mas foi por isto que comecei a descrevê-lo, mas fui surpreendido pelas letras que mudaram o rumo da prosa e deu nisto: um texto cheio de nuance do medo, do susto, culminando com a barata em suas interfaces do medo e do nojo.

Quem escreve sabe como isto acontece. Como não creio no acaso, acho que ao me permitir ao desfrute literário, fiz bem. Pois fiquei de bem comigo com essa nova descoberta de que eu agora posso rir sozinho, até mesmo gargalhar. Só que tenho que me acostumar. Confirmamos, com isto, que o riso, além de social ele é, geneticamente contagioso... Mesmo assim, há quem queira se vacinar dele, eu não!