REFLEXÕES SOBRE A LOUCURA

Sou um homem de meia idade. Meia?! Já estou beirando os 60. Estou em uma fase difícil, sofrendo uma profunda crise existencial. Estou naquela fase que não tem paciência para nada. Resolvi escrever este pequeno texto para narrar e tentar entender se o problema está em mim ou nas pessoas – uma maneira de economizar com o analista.

Certa vez estava eu andando pela rua em um dia chuvoso quando certo cidadão, conhecido de longa data falou:

-Que chuva molhada!

- Imbecil a chuva é seca, pior do que a ácida – respondi.

É nessas horas que paro e me pergunto: O louco é ele ou eu?

Em outra ocasião, estava completando 25 anos de casado e resolvi fazer uma frente para a patroa. Comprei um lindo buquê de rosas colombianas – caríssimo. Ela ficou tão feliz, mas quando eu entreguei as rosas, ela estragou o clima dizendo:

- São flores?

- Não! São calcinhas comestíveis – respondi. Resumindo dormi no sofá.

Atravessando a rua escorreguei não vi o paralelepípedo, tropecei e caí de cara no chão. Veio um rapaz cheio de boa vontade e me perguntou:

-Caiu?

- Não, estou mergulhando no chão. Não está vendo a enorme piscina? – respondi.

No prédio onde eu moro, existe um ascensorista que toda a vez que estou no térreo ele pergunta:

- Sobe?

- Não! Eu atravessar as paredes. – respondi enfurecido, já é nonagésima nona vez que ele diz isso!

Sou um homem muito religioso, quase canonizado. Somente traí a minha esposa sete vezes, invejo o carro do meu vizinho todos os dias, em média conto 30 mentiras e joguei a minha sogra do décimo nono andar. Resumindo: sou um homem de poucos pecados. Fui pagar uma promessa, fui à Igreja da Penha, subi a escadaria de joelhos. Chegando lá no antepenúltimo degrau o padre me perguntou:

- O senhor está pagando promessa?

- Não, não! Estou apenas fazendo um novo exercício recomendado pela minha personal trainer!

Estão todos loucos? Ou será que o louco sou eu? Raul Seixas diz:

“Eu não sou louco,

“O mundo é que não entende a minha lucidez”

Concordo com o pensamento do Raul, estou em perfeita qualidade mental. A melhor coisa que devo fazer é entrar em uma bolha e me isolar destes loucos. Ou então vou para uma ilha deserta longe de toda esta gentinha louca. Mas sem os loucos eu não vivo! Como viverei sem a minha esposa? Sem a minha família?

Terminei a minha análise, cheguei a triste conclusão de que a maior loucura é tentar ser normal num mundo de loucos! Portanto o verdadeiro louco sou eu...

Victor Terra
Enviado por Victor Terra em 14/11/2010
Reeditado em 11/01/2013
Código do texto: T2615513
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