Saudades de mim 4. A novena.
"Santa Barba virgi;
Qui di Deus ela é istimada;
Manda chuva meio dia;
Pá terrá ficá moiada."
Era com esse cântico que começava a procissão da novena prá Santa Bábara para que chovesse em época de muita seca. Em fila indiana, carregando imagens e quadro de santos e garrafas de água lá ia a procissão de mulheres e crianças rumo ao "corgo" onde havia na margem um túmulo com uma cruz de madeira enegrecida e todos sabiam que lá estava enterrado um homem que morreu "matado" e era lá o destino da procissão. Ao chegar lá, todos muito contritos, ajoelhavam, rezavam, faziam o sinal da cruz e despejavam as garrafas dágua na cruz, e as crianças já liberadas da penitência entravam na água, enchiam as garrafas vazias e despejavam na cruz e aí acabava a devoção e começava a diversão, e era um tal de rolar na lama e mergulhar no corgo, catar "guarú" com as mãos e engolir vivo " prá aprender a nadar" e até o São Benedito esculpido em madeira escura entrava na brincadeira sendo jogado na pequena correnteza para ir boiando até cair na cachoeira. Mas como tudo o que é bom dura pouco, logo as mães chamavam prá ir embora, pois diziam que a água estava muito fria, que o sol tava muito quente, que todos iriam acabar "cosntipados" e a criançada ia sob protesto, "molhadas que nem um pintinho" com as roupinhas surradas grudadas nos corpinhos magros. Saudades da fé singela de um povo simples.