Mayara e Tiririca

     E a Mayara? E o Tiririca?
     Primeiro ela. A imprensa - e isto me surpreende e até chateia - persiste naquela de manter Mayara nas primeiras páginas.
     A moça continua sendo manchete nos jornais, nas rádios e nas TVs. Nos jornais, então! Incrível!
     Colhe-se aqui e ali opiniões sobre a infeliz proposta da paulista de afogar os nordestinos, segundo ela responsáveis pela vitória da Dilma, nas últimas eleições.
     Prova inequívoca de que ela queria ver o tucano Serra subindo a rampa do Palácio do Planalto e não a ex-guerrilheira.
     Muita gente - eu, por exemplo - tem procurado despir de qualquer importância as declarações da jovem paulista, arguindo sua reconhecida insignificância politica. 
     Seu twitter não teria força para mexer com a galera, provocando uma irreversível e avassaladora reação racista. Nada disso.
     E foi isto o que eu disse em recente crônica, com a franqueza de um cearense, que mora na Bahia, mas que continua doido por sua terrinha...
     E já que voltei ao assunto, queria fazer, apenas, uma rápida observação, que, aliás, não me parece ser nenhuma novidade: o caso Mayara tem produzido uma série interminável de bobas declarações.
     Em torno do episódio, dizia uma colega advogada, proliferam as mais eloquentes heresias jurídicas.
     Contudo, ousaria fazer esta sugestão: mande-se a afoita Mayara de volta ao anonimato em que ela sempre esteve; e que os nordestinos prossigam fazendo o que eles sempre fizeram: querer bem aos paulistas e ajudar, com o seu trabalho, São Paulo a crescer cada vez mais.
     Posso ainda garantir que o Tietê, por exemplo, jamais aceitaria ser sepultura de nordestinos. 
     E agora o Tiririca.
     Como, em nome da Lei, se está humilhando este pobre rapaz. Acusam-no de ser analfabeto e que, por isso, estaria impedido de entrar no Congresso Nacional, para exercer o mandato de deputado. Ele recebeu, apenas, 1,3 milhões votos.
     Ora, nos últimos anos os brasileiros vem sendo  obrigados a conviver com autoridades que sabem muito pouco lidar com o vernáculo.
     O povo quer Tiririca deputado. Ele representa os eleitores descontentes com dezenas de politicos letrados, mas que nada fazem  para honrar o mandato que a grana farta lhes deu de presente.
     Leio nas gazetas que o Tiririca tirou de letra e passou no teste de alfabetização que lhe foi imposto. Aproveito para parabenizá-lo.
     Mesmo submetido a esse vexame, o nobre palhaço tem aparecido na televisão, sorrindo. Em suas aparições, em nenhum momento demonstrou revolta ou xingou quem está a exigir-lhe a prova de que ele sabe ler e escrever, para ser deputado.
     É do bom palhaço, sorrir e fazer sorrir, ainda que no seu interior algo esteja a machucá-lo ou a amargurá-lo.
     Que estaria sentindo, nesta hora, o nobre palhaço Tiririca, com todo este massacre?
     Olhando para o seu sorrriso, me vem à lembrança este soneto do saudoso Padre Antônio Tomás, poeta amado por nós cearenses:   O Palhaço.

     Ontem viu-se em casa a esposa morta
     e a filhinha mais nova tão doente!
     Hoje o empresário vai bater-lhe à porta,
     que a platéia o reclama impaciente.

     Ao palco em breve surge... pouco importa
     o seu pesar àquela estranha gente.
     E ao som das ovações que os ares corta,
     trejeita e canta e ri nervosamente.

     Aos aplausos da turba ele trabalha
     para esconder no manto em que se embuça
     a cruciante angústia que o retalha.

     No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça
     e enquanto o lábio trêmulo gargalha,
     dentro do peito o coração soluça.

     Apura-se, através de testes e mais testes, e com tanto rigor, a escolaridade do Tiririca, e eu pergunto: por que não submeter alguns de nossos politicos a um teste de honestidade antes de lhes ser entregue o diploma de deputado ou senador?
     Haveria, possivelmente, uma reprovação em massa.  
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 14/11/2010
Reeditado em 15/11/2010
Código do texto: T2614882