O OLHO VIU
 
O olho olhou a dona. A dona viu seu rosto. E pasmou.
Viu um olho belo, com tardia emoção, como surpresa.
Emoção e precisão de explicação.
Telefonou para o filho, estava dormindo, disse a nora.
Precisava de uma explicação o porquê de tal emoção.
A filha chegou bem na hora;
Filha estou com uma emoção estranha, me salve.
Quê mãe?! Nada não, é a festa!
Emudeceu a voz truncada naquela indagação:
Que perturbação, quanta aflição contida.
 
No taxi, uma motorista, Vera, alegre conversadeira.
E pra ela contei do meu olho e perguntei.
Ela: isto não é pergunta para filhos.
O homem é que dirá que o olho é belo!
Engatamos um entrosamento melhor que os terapeutas:
Ela dizia e eu traduzia psicologicamente.
Então precisamos do homem para ele dizer que o olho é belo.
É disse ela, o homem é que acha a mulher bonita!
E eu, então na falta do homem a mulher não se vê bonita, não nota.
Quando há o homem a mulher fica sabendo que é bela, pois ele vê e fala.
E ela: tenho 42 anos e tenho um namorado de 28. Não tem a menor importância.
Isso não conta, o que importa é o homem e a mulher.
Eles têm coisas a se dizerem. Fiquei besta e encantada com ela, têm muito a dizer.

E percebi quanto tenho estado sozinha, e quanta coisa não é com os filhos que posso dizer. Ainda bem que meu filho estava adormecido. E a filha não entende a fala de uma mãe, só a ouve como filha! Quanta coisa apreendi nesta corrida de taxi!

E quanto tenho andado tão sozinha.
Trocamos telefones e vamos conversar mais.

 
MLuiza Martins / Palavras: 285