MEROS ESPECTADORES BIRRENTOS
Esperei passar alguns dias após o término das eleições de 2010 para escrever algo a respeito, pois estava me sentindo enjoado ao extremo com essa que, para mim, foi a pior eleição de que tenho notícia. E pior em todos os sentidos, seja pela qualidade de muitos candidatos, seja pelo comportamento dos dois principais candidatos à presidência da República, mais preocupados em ofensas e ataques pessoais do que com o próprio programa de governo que realmente era o que interessava.
Logo após o resultado do segundo turno, conversava com um amigo que se mostrava extremamente cético e nervoso com o que havia saído das urnas. Vez ou outra usava interjeições do tipo: “Quero que essa Dilma se... (deixo para o leitor imaginar)”. Por seu pensamento, torce para que a presidente eleita faça um péssimo mandato e, de preferência, ainda sofra impeachment. Mas isso não é uma ideia de “jerico”?
Confesso que nenhum dos dois candidatos me agradava, mas, sinceramente, torço para que ela seja a melhor presidente que este país já teve. Não tenho motivo algum para desejar o contrário. Seria o mesmo que mudar de empresa e torcer pelo fracasso do novo patrão. E, esquecendo de vez o revanchismo, vale mais nos perguntarmos o que podemos fazer para ajudar.
Uma curiosidade que tirei desse episódio é a contradição do nervosismo pós-eleição com a apatia nos momentos de campanha. Praticamente ninguém tentou me convencer a votar neste ou naquele candidato, aliado à grande quantidade de votos brancos, nulos e um número exorbitante de abstenções. O segundo turno no meio de um feriado levou muitos a viajarem, os mesmos muitos que agora reclamam do resultado.
Mas, infelizmente, o começo não poderia ter sido pior. Ao invés de transmitir confiança e alento aos seus eleitores, acenando com a adoção de medidas saneadoras e redução de impostos, o que se vê é exatamente o contrário. O maior exemplo é a possível volta da famigerada CPMF, derrubada pelo senado em 2007. Lula, que nunca digeriu essa derrota, defende que o “novo” governo encontre um mecanismo para compensar as perdas de arrecadação decorrentes da extinção do tributo. Em vista disso, procurou matreiramente o apoio dos governadores para servirem de bois de piranha. E, é claro, os governadores vão batalhar pela sua volta, talvez até com outro nome. Antes de CPMF chamava-se IPMF, lembram-se? Que tal agora SPMF (Sacanagem Provisória sobre Movimentação Financeira)?
O dinheiro arrecadado com tal tributo (IPMF ou CPMF) durante o tempo em que durou, poderia ter amenizado a situação em que hoje se encontra a saúde. As epidemias se alastram a cada dia (dengue, gripe, meningite, febre amarela, tuberculose) e as autoridades da saúde deixam morrer milhares de brasileiros por falta de remédios ou assistência médica. Infelizmente toda essa dinheirama arrecadada desapareceu nas cinzas da incompetência e da corrupção, enquanto os pacientes do SUS, às moscas, morriam à porta dos hospitais. Essa maquiavélica trama só servirá para alimentar ainda mais a farra que domina os lados do Planalto. A saúde, com ou sem esse dinheiro, vai continuar uma lástima.
Essa característica de chorar sobre o leite derramado é típica do brasileiro. Na França, a população foi às ruas protestar contra a tentativa de mudança da idade mínima para aposentadoria. Na Inglaterra houve problema semelhante. Enquanto isso, aqui nesta terra varonil, vamos deixando que pisem nosso jardim, invadam nossa casa, atem nossas bocas e aí queremos reclamar. Reclamar do quê, se somos coniventes? Daí conclui-se que brasileiro é mais espectador do que povo propriamente dito.
Nossa democracia foi consolidada a partir de 1988, portanto já está com 22 anos e não pode se comportar mais como um adolescente irresponsável. Está mais do que na hora da população crescer, discutir, debater e deixar de ser apenas esse jovem birrento que é hoje.
É dessa forma que podemos ajudar o Brasil a tornar-se um grande país e não apenas manter-se como um país grande.
Eu ainda acredito e acreditar é simplesmente o começo de tudo.
******
Esperei passar alguns dias após o término das eleições de 2010 para escrever algo a respeito, pois estava me sentindo enjoado ao extremo com essa que, para mim, foi a pior eleição de que tenho notícia. E pior em todos os sentidos, seja pela qualidade de muitos candidatos, seja pelo comportamento dos dois principais candidatos à presidência da República, mais preocupados em ofensas e ataques pessoais do que com o próprio programa de governo que realmente era o que interessava.
Logo após o resultado do segundo turno, conversava com um amigo que se mostrava extremamente cético e nervoso com o que havia saído das urnas. Vez ou outra usava interjeições do tipo: “Quero que essa Dilma se... (deixo para o leitor imaginar)”. Por seu pensamento, torce para que a presidente eleita faça um péssimo mandato e, de preferência, ainda sofra impeachment. Mas isso não é uma ideia de “jerico”?
Confesso que nenhum dos dois candidatos me agradava, mas, sinceramente, torço para que ela seja a melhor presidente que este país já teve. Não tenho motivo algum para desejar o contrário. Seria o mesmo que mudar de empresa e torcer pelo fracasso do novo patrão. E, esquecendo de vez o revanchismo, vale mais nos perguntarmos o que podemos fazer para ajudar.
Uma curiosidade que tirei desse episódio é a contradição do nervosismo pós-eleição com a apatia nos momentos de campanha. Praticamente ninguém tentou me convencer a votar neste ou naquele candidato, aliado à grande quantidade de votos brancos, nulos e um número exorbitante de abstenções. O segundo turno no meio de um feriado levou muitos a viajarem, os mesmos muitos que agora reclamam do resultado.
Mas, infelizmente, o começo não poderia ter sido pior. Ao invés de transmitir confiança e alento aos seus eleitores, acenando com a adoção de medidas saneadoras e redução de impostos, o que se vê é exatamente o contrário. O maior exemplo é a possível volta da famigerada CPMF, derrubada pelo senado em 2007. Lula, que nunca digeriu essa derrota, defende que o “novo” governo encontre um mecanismo para compensar as perdas de arrecadação decorrentes da extinção do tributo. Em vista disso, procurou matreiramente o apoio dos governadores para servirem de bois de piranha. E, é claro, os governadores vão batalhar pela sua volta, talvez até com outro nome. Antes de CPMF chamava-se IPMF, lembram-se? Que tal agora SPMF (Sacanagem Provisória sobre Movimentação Financeira)?
O dinheiro arrecadado com tal tributo (IPMF ou CPMF) durante o tempo em que durou, poderia ter amenizado a situação em que hoje se encontra a saúde. As epidemias se alastram a cada dia (dengue, gripe, meningite, febre amarela, tuberculose) e as autoridades da saúde deixam morrer milhares de brasileiros por falta de remédios ou assistência médica. Infelizmente toda essa dinheirama arrecadada desapareceu nas cinzas da incompetência e da corrupção, enquanto os pacientes do SUS, às moscas, morriam à porta dos hospitais. Essa maquiavélica trama só servirá para alimentar ainda mais a farra que domina os lados do Planalto. A saúde, com ou sem esse dinheiro, vai continuar uma lástima.
Essa característica de chorar sobre o leite derramado é típica do brasileiro. Na França, a população foi às ruas protestar contra a tentativa de mudança da idade mínima para aposentadoria. Na Inglaterra houve problema semelhante. Enquanto isso, aqui nesta terra varonil, vamos deixando que pisem nosso jardim, invadam nossa casa, atem nossas bocas e aí queremos reclamar. Reclamar do quê, se somos coniventes? Daí conclui-se que brasileiro é mais espectador do que povo propriamente dito.
Nossa democracia foi consolidada a partir de 1988, portanto já está com 22 anos e não pode se comportar mais como um adolescente irresponsável. Está mais do que na hora da população crescer, discutir, debater e deixar de ser apenas esse jovem birrento que é hoje.
É dessa forma que podemos ajudar o Brasil a tornar-se um grande país e não apenas manter-se como um país grande.
Eu ainda acredito e acreditar é simplesmente o começo de tudo.
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