Um mestre brasileiro na Espanha
Tive a honra de conhecer pessoalmente o artista plástico Otto Cavalcanti, um criador singular, nome importante do panorama artístico da Europa, ele que é radicado em Barcelona, Espanha. Otto Cavalcanti nasceu em Itabaiana, de onde saiu aos vinte anos de idade para ganhar o mundo com sua arte, seguindo o caminho do seu conterrâneo não menos famoso, mestre Sivuca.
Fui entrevista-lo para o documentário que estou produzindo, cujo título é “Itabaiana, terra de bamba”. Eu e meu cinegrafista Jacinto Moreno fomos agraciados com duas gravuras do mestre. O meu presente, vou leiloar em benefício da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba, com autorização do autor da obra.
Otto contou sobre sua infância em Itabaiana, quando se descobriu apaixonado pelas cores e imagens. Desenhava os heróis das fitas de cinema, depois foi fazer a vida no Rio de Janeiro, trabalhando em jornais e revistas. De lá foi para a Europa, onde se estabeleceu com sua pintura.
Erico Veríssimo afirmava que a melhor chave para a alma de um país são as obras de seus artistas. Os quadros de Otto Cavalcanti ainda hoje trazem a marca de suas origens rurais, de seu universo itabaianense. Ele viveu na Idade de Ouro de Itabaiana, por assim dizer. Na década de 40/50, a cidade era abastada, tinha glória. A arte e a literatura eram incentivadas e prosperavam. Havia jornais diários, editoras, clubes literários, bandas filarmônicas. O próprio Otto estudou solfejo, iniciou-se nos caminhos da música, tocava piano. Nessa rica e próspera Itabaiana viveram Sivuca, o cinegrafista Vladimir Carvalho, os poetas Bastos de Andrade e Zé da Luz, o grande bandolinista Artur Fumaça, os mestres professores Maciel e Marieta Medeiros, o genial Pingolença e tantos outros artistas. Otto Cavalcanti lembrou de Manoel de Tino, um formidável artesão que fabricava armas de fogo. Otto esculpia as gravuras que adornavam as coronhas das espingardas de Manoel de Tino. Adolescente, já ganhava dinheiro pintando os animais da roda do “jogo do bicho”, loteria popular que ainda hoje persiste.
O pintor estudou na escola de dona Marieta, aprendendo os rudimentos do latim e inglês com um professor chamado Maciel. “Mestre Maciel era tetraplégico, mas tinha um cérebro privilegiado, uma memória fantástica”, lembra.
Pena que a entrevista foi breve. Otto Cavacanti voltou para a Espanha com sua esposa. Sua maior vontade: disponibilizar o acervo para que sua arte seja conhecida na sua terra, assegurando para as novas gerações a oportunidade de estimular a atividade criadora diante da obra marcante do grande mestre. Projeto ele tem neste sentido. Faltam receptividade e mentalidade arejada aos nativos.