Racional, porém não acrítico



Racional, porém não acrítico
 
Normalmente não gosto dos extremos. Sou, o melhor seria tendo a ser, por definição, um materialista, racional crítico e relativista, mas também um pouco empirista e cético, valorizando bastante o racionalismo. Caso, por alguma razão tivesse que optar entre um racionalismo extremo e o irracionalismo, com razoável certeza optaria pelo primeiro: O racionalismo extremo.
 
Mesmo quando o racionalismo tenha ido longe demais, ainda assim me relacionaria melhor com este, do que com o irracionalismo, pois tenho a certeza que o excesso do racional, quando verdadeiramente racional (desde que excluídos a imodéstia intelectual do pseudo racionalismo platônico) é sempre inofensivo, ao passo que o excesso de irracionalismo sempre leva a extremos de terror e perdição.
 
É interessante, mas a única maneira que percebo ser possível ao racionalismo radical fazer algum mal, é quando este mina sua própria posição, tentando levar o racional para além dos limites do evidenciável, e com isto oferece argumentos para o irracional o derrubar. Neste momento o irracional soberbo de si pode promover uma reação tempestuosa.
 
Por isto sou racionalista “CRÍTICO”, e não somente racionalista, pois sei que pelo menos por enquanto, não temos como responder a 100% das coisas com argumentos puramente racionais. Em algum momento de nosso aprofundamento, ou de nosso retorno ao início da cadeia de eventos que racionalmente defendemos, não haverá respostas racionais. Teremos assim que ceder a algumas crenças, abrindo mão de certo racionalismo, para me estruturar agora em princípios lógicos e sustentados por uma crítica verdadeira que analise os caminhos destas crenças, aos que mais se adequem a leitura de nossa realidade.
 
Devemos ter como princípio que nenhum argumento baseado em crenças pode abertamente ferir o hoje estabelecido.
 
Se desejarmos lutar até o último passo com argumentos puramente racionais, acabaremos sempre dando ao nosso oponente irracional o direito a aquela última pergunta: Como você me explica racionalmente este último passo?
 
Precisamos estar cientes de que se mantivermos a postura meramente racional, acabaremos por ficar sem argumentos racionais, entretanto posso entre as teses possíveis escolher, ou melhor selecionar, aquelas que não firam o real.
 
O racionalista extremo, chamá-lo-ei de “racionalista acrítico” é logicamente insustentável nos extremos iniciais da cadeia de eventos que defendemos. O racionalista acrítico pode ser derrotado pela arma que ele mesmo escolheu. Nenhuma argumentação, se levada a extremos, se sustenta sempre pelo racionalismo. Toda argumentação, parte em algum momento de suposições, e não temos como racionalizar evidências sobre suposições, neste momento viro crítico, por isto sou um “racionalista crítico”. É insustentável que todas as suposições possam ser suportadas por argumentos meramente evidenciáveis ou reais, pelo menos no que tanja a materialidade deste real.
 
Eu acho incoerente a defesa de alguns filósofos no que concerne a que sempre é possível partir de algo real, não necessitando assim de nenhuma suposição primária. Não creio em uma “razão suficiente” para tudo, pelo menos em nosso estado de desenvolvimento científico, social e humano.
 
O que caracteriza um racional é a importância que ele atribui a argumentação lógica e as experiências, além de todas as evidências. Nem tudo ainda é hoje evidenciável.
 
A própria escolha pelo racionalismo é uma decisão que a princípio nasceu de alguma teoria e de suposições básicas de que seja ela a melhor atitude a ser tomada.
 
Um exemplo ao contrário, passado por Popper: “Nenhum argumento racional surtirá efeito racional em alguém que não queira adotar uma atitude racional”.
 
“Quem adota uma atitude e comportamento racionalista o fez por haver adotado, consciente ou inconsciente, uma proposta, decisão, crenças ou comportamento – e tal adoção pode ser chamada inicialmente de irracional”
 
Mas a decisão racional nasceu, assim podemos dizer que em algum momento o racionalismo nasceu na fé “irracional” na razão. Mas não nasceu de uma fé cega, irracional, nasceu de uma análise crítica de que valia a pena tentar ser racional.
 
“Por muito tempo isto passou desapercebido pelos racionalistas que assim se expuseram a levar uma surra em seu próprio campo, e com suas armas favoritas, sempre que um irracional, mas inteligente, resolvesse voltar nossas armas contra nós próprios”, argumentava Popper.
 
Tenho certo orgulho (sem arrogância, presunção ou vaidade, mas com humildade, dignidade e certo brio) de tentar ser um racionalista crítico. Se tivesse de iniciar de novo, tenho razoável certeza de que caminharia na mesma direção, talvez por caminhos ou atalhos diferentes, mas buscaria de novo o racionalismo crítico.
 
De certa forma o irracionalismo permite alguma lógica superior ao racionalista absoluto e acrítico, exatamente por, de forma falaciosa, desenvolver contra estes racionalistas necessidades de provas e evidências, que nos extremos não possuímos.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 13/11/2010
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