O Dia D
Como a dependência é insidiosa; ela chega sorrateiramente, se instala, e você, dela hospedeiro, é o último a se saber vítima:
-Você é um bebedor contumaz?
-Não, só o faço socialmente. Quando no íntimo você sabe que se realmente bebesse apenas em rodas sociais, seria um membro permanente dos salões que abrigam a comunidade.
-Você é um fumante?
-Não, apenas fumo quando estou bebendo. Também sabe que se isto fosse uma verdade, os salões das comunidades seriam, permanentemente, cobertos pelas cortinas de nicotina e alcatrão, desprendidos das suas baforadas.
Jogo é um dos principais condutores ao vício e, consequentemente, à dependência moral e física; carteados e corrida de cavalos prendem, por horas, pessoas numa só posição, que se esquecem até mesmo de comer ou beber.
Um gerador de dependência, ainda não citado nos meios de recuperação, é o CARTÃO DE CRÉDITO; talvez seja pela sensação de poder que ele transmite, você se sente capaz, seus braços mais longos, se seu pseudo-poder de convencimento mais eficaz.
Os quarenta dias que tem para pagar são de absoluta tranqüilidade: o note book novo lhe dá prazeres incomensuráveis, as refeições em churrascarias lhe dão aparência de abastado, e os motéis, os mais sofisticados, lhe proporcionam prazeres quase iguais aos que lhe proporcionam o note book
Se olhasse bem para seu cartão veria que ele tem um dia de vencimento, todos os cartões têm, o seu também.
O desembarque na Normandia se deu num 06.06.44, o DIA D, o dia D dos usuários de cartões é pré-fixado; todas as contas têm um dia D, O DIA DO DÉBITO, debitam tudo em sua conta corrente.
Como você, por você, vai ser xingado, como todos os santos serão jurados, como por credores será cobrado, como seu salário é minguado, como você ficará atolado, e para chegar o 13º, quantos meses terão passado?
Já tentou colocar seu cartão junto com outros cartões? Fitas magnéticas se roçando, tiram, uma da outra, a capacidade plena de leitura, várias compras você terá que devolver ao chegar ao caixa, o cartão não passará, isto funcionará como um agente inibidor à sua sanha, compulsiva, de comprar.
Independente do cartão passar ou não pelo caixa recebedor, nesta circunstância, algumas opções se apresentam, algumas salutares:
- se passar , você terá comprado o que queria, aguarde o Dia D;
- se não passar. o seu tormento no Dia D será infinitamente menos torturante;
- sobra a você a oportunidade de dizer em voz alta, e ser ouvido por aqueles que o rodeiam junto à caixa recebedora – “Como o mundo da informática, por vezes, tolhe nossos sonhos”. Você, quase que falido, tornou-se o porta-voz de uma verdade do mundo moderno...já se imaginou sendo detentor da DOUTRINA CARTÃO DE CRÉDITO?
Passe a usar um cartão de crédito desgastado pela fricção; a coisa estar preta no banco é melhor do que estar no VERMELHO
...experimente.