TODO FINAL DE SEMANA É IGUAL

Em uma tarde de domingo um pai tenta terminar um trabalho que deixara para última hora, quando seu filho vem correndo na esperança de um pouco de atenção. Olha o que eu aprendi papai, deixa eu mostrar, dizia a criança com brilho nos olhos, aguardando com toda a atenção que o pai olhasse-o para que iniciasse a brincadeira que aprendeu. Infelizmente não posso agora meu filho, respondeu o pai sem ao menos olhar para criança. Mas hoje é domingo pai, essa brincadeira é muito legal, o senhor vai... Já disse que agora não posso filho! Você tem que entender o papai, eu preciso terminar este trabalho ainda hoje. No próximo final de semana a gente vê essa sua brincadeira quantas vezes quiser.

A criança não era tola. Apesar de sua pouca idade, não esquecera que as palavras do seu pai no final de semana anterior foram exatamente iguais às daquele momento. O que ela podia fazer diante dessa situação? Nada. Ela ainda não era adolescente para revoltar-se e jogar para fora todas as raivas geradas por mentiras ditas durante toda sua vida. Ela era criança. Seu perfil não condizia com tal reação. Não poderia dizer ao pai que ele dissera a mesma coisa no final de semana passado, por que isso com certeza só iria gerar outra desculpa esfarrapada. Então nada restava a a ela senão ir com o rabinho entre as pernas brincar sozinha.

Onde estará a mãe dessa criança para consolá-la nesses momentos, que por mais rotineiros que sejam, ainda machuca seu pobre coraçãozinho? Diante dos fatos a nós apresentados, presume-se que deixara para trás não só o pai como também o filho. Mas onde está o amor incondicional de uma mãe pelo seu filho, para amá-lo haja o que houver? Essa é a pergunta que o pai se faz todos os dias quando o filho vem querendo atenção. Não se dá conta de que sabe a resposta não para esta pergunta, mas para outras não menos relevantes como; onde está o amor incondicional de uma esposa pelo seu marido, para amá-lo haja o que houver?

E assim a criança cresce aprendendo a dar desculpas esfarrapadas e sem saber o real motivo de não ter atenção. Até que quando chegar sua adolescência ela poderá explodir como um vulcão que entra em erupção. Jorrando suas palavras ardentes em quem quer que se aproxime. Talvez depois de muita revolta consiga um trabalho, na esperança de enfim pôr ordem em sua vida. E finalmente se case com uma mulher, na esperança de colocar ordem na sua casa. O filho virá como conseqüência, e com certeza virá com suas exigências: Olha o que eu aprendi papai, deixa eu mostrar. Infelizmente não posso agora meu filho.

Com o tempo a mulher o deixará, o filho crescerá e o pior será agüentar o seu vulcão adolescente entrar em erupção. Pois o que se ensina o que se aprende. Se cria como foi criado. Não há como fugir dessa lógica. Qualquer diferença é mera ilusão. Como tentar enganar uma criança, que mesmo com a melhor das respostas fajutas, no fundo em sua cabeça há um milhão de interrogações.

Pedro Wellington Alves
Enviado por Pedro Wellington Alves em 12/11/2010
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