RELEMBRANÇAS !
Assim como que por acaso , se é que o acaso existe, navegando pela net numa dessas madrugadas insones tropecei numa foto de um fogão à lenha.
O fogão estava bem conservado e sobre sua trempe via-se claramente uma chaleira e um enorme bule e , imediatamente me lembrei daqueles que em tempos passados as famílias serviam café coado com antigos e superados coadores de pano.
Não sei se foi a influência do sono que se aproximava ou mais um dos meus delírios mas a verdade é que aquela imagem me levou aos bons tempos de criança , onde de vez em quando passava uns dias na casa da minha avó materna, numa das cidades do sul de Minas Gerais.
Tempo muito bom e do qual de vez em quando gosto de reviver, relembrar e nessas minhas lembranças ou relembranças como gosto de falar, me transporto para aquele ambiente simples de vida de interior .
Me lembro perfeitamente de como minha avó colhia aqueles frutinhos redondinhos de umas árvores não muito grandes, torrava, sacudia numa enorme peneira, moía num moedor bem esquisito e pronto, magia pura, ali estava um pó marrom escuro que com a colaboração de uma água fervendo se transformava num cheiroso e saboroso café.
Gosto de me lembrar de coisas antigas e não vejo nada de mal em ser saudosista. Também de vez em quando me recordo de um vizinho da minha avó cujo quintal tinha uma fileira de jabuticabeiras e para nós, crianças levadas era uma verdadeira festa poder colher jabuticabas no pé.
Eram enormes bolas pretas que faziam nossa alegria , pois tanto engolíamos aquelas frutinhas quanto atirávamos as mais maduras uns nos outros.
Eu tinha dois primos levadíssimos, verdadeiros pestinhas que sempre aprontavam e nos períodos que convivia com eles não só aprendia como praticava inúmeras travessuras.
Era um tempo bom pois colhíamos e provávamos frutas direto das árvores, algumas ainda verdes. Cada trocado que ganhávamos corríamos para uma quitanda que ficava na esquina e compravamos suco de groselha aguado e o troco recebíamos em gostosas balas de coco queimado .
Infelizmente não tenho nenhuma foto daquela época e isso é uma pena ! É aí que sinto falta da tecnologia pois hoje em dia, mesmo com as câmeras digitais será que conseguiríamos nos divertir da mesma maneira que naquela época ?
Lembro-me inclusive da primeira vez que fui com os tios e os primos pestinhas pescar num rio que passava nos fundos do enorme quintal da casa dos meus avós.
Fiquei uma eternidade segurando a vara de pescar até que consegui pegar um minúsculo lambari e sem saber o que fazer com ele simplesmente devolvi o peixinho para as águas com anzol , vara e tudo.
Todas essas gostosas lembranças me foram trazidas pela imagem do fogão à lenha e até cheguei a sentir o cheiro inesquecível daquele feijão mulatinho com linguiça de porco que eu adorava. Foi também num desses fogões que queimei os dedos ao tentar lamber uma panela com calda que tinha sobrado de umas cocadas que minha tia tinha acabado de fazer.
Hoje em dia, acredito que os tais fogões não devam ser tão populares assim. Entretanto, vejo neles uma grande dose de saudosismo, de romantismo de uma época em que as mulheres se sacrificavam um bocado para aprontar a tempo e hora a comida para suas famílias.
Recentemente estive num restaurante típico de comidas mineiras e que eram preparadas num enorme fogão com caprichadas toras de lenha.
Nem preciso dizer que aquela comida estava deliciosa, o feijão magistral e uma costela de porco divina.
Bem, se fosse realmente continuar contando um pouco das minhas relembranças seria necessário escrever um livro. A questão é quem escreve livro é escritor e eu sou apenas um sujeito que adora de vez em quando acender a imaginação e cozinhar nas trempes do velho fogão das minhas memórias algumas ideias, algumas relembranças enfim, apenas contar historias.....
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(.....imagem google.....)