O Jogo

Entregou as cartas do jogo, ajuntou o que lhe sobrara, guardou tudo, deu um sorriso amarelo para quem permanecia, e saiu. Antes de cruzar a porta, arriscou uma espiada para trás. Desistiu ao primeiro movimento, desejara nunca mais olhar para aquela cena, alguns homens em volta de uma mesa de jogo.

Essa fora sua perdição, desde jovem, se iludira com o dinheiro fácil que ganhava apostando em sua sorte durante o recreio. Naquela época era tão fácil, ganhava e torrava tudo em doces na cantina da escola.

Foi caminhando pela calçada, desolado. Como ele, “O Incrível”, poderia ter sido vencido?

Aquilo era trapaça, só podia ser. Mais ele ia se vingar, de maneira ou outra.

Chegando ao portão de sua casa, resolvera, iria apostar todo dinheiro da venda da casa e acabar com aqueles desgraçados.

Porta à dentro, tudo já estava embalado e preparado para a mudança, ela iria esperar. Não podia se mudar dali como um derrotado, amanhã logo cedo iria resolver o empasse, e ninguém poderia impedi-lo.

Pelo menos era assim que pensava até o sol raiar, era seu último dia naquela casa, devia deixar para trás todas as lembranças de quem crescera ali. Enquanto tomara seu café matinal, pegara mais uma caneca, servira-lhe fartamente de café e sem açúcar, era como ela gostava de tomar todas as manhãs. Sentou-se a mesa e ficou observando a vizinhança pela janela, esperaria ela chegar para se despedir.

Lá fora o sol já torrava a cabeça da maior parte das pessoas, enquanto ele a esperava pacientemente imerso a solidão e ao conformismo de sorrir para ela pela última vez.

Já chegara a metade do dia, e ele já perdera a conta de quantas vezes fechou os olhos e acordou com o menor ruído de que um pássaro faz na Rua Dr. Peixoto.

Ela não viria hoje cuidar da mão enferma, e mal ele sabia onde ela estava e enquanto a esperava no maior silêncio e remorso por abandoná-la. O destino assim quisera, deveriam se separar pelo bem de seus corações.

Enquanto ele esperava pelo Adeus, ela se divertia em uma mesa. Tentando recuperar o que lhe fora tirado. O verdadeiro amor de sua vida.

Bergmann
Enviado por Bergmann em 11/11/2010
Reeditado em 15/11/2010
Código do texto: T2610395
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