A descoberta de si mesma
Na verdade, diante do espelho do quarto eu era uma menina magra e sem graça. Os cabelos curtos num corte masculino denunciavam minha fraca preocupação com a aparência. Os olhos castanhos, miúdos em excesso _ pelo sorriso _ enchiam-se de sonhos sem medo e sem dificuldade. Os pés descalços na areia, na minha rua todas as crianças andavam assim, corriam toda tarde pelo campinho perto da linha de ferro.
Um dia, o Paulo (nariz empinado no ar) rasgou: “Joga uma bomba nesta macho-fêmea que ela sai do gol!”. Eu nunca fui calma como as menininhas de tranças, então parti para cima dele e, como era natural dado ser ele um menino e maior que eu, levei uma surra.
Ele tinha covinhas na face. Brincar com meninos é entrar para um mundo desconhecido; pode-se acertar o caminho da amizade ou se perder nos olhos deles. Eu me vi presa nos olhos de meu ‘amigo’ de infância! E gritei para mim mesma que não queria me apaixonar. Tarde demais.
Mas foi há muito tempo... Quando os meninos e meninas brincavam de esconde-esconde e a vaidade de uma menina não era tão importante (Eu achava)!
E caía a tarde! Os pássaros soltavam seus cantos no alto das faveiras. Dos ipês, algumas flores vieram ao chão, que amarelo, ficou tão belo e cheio de sonhos românticos...
__ Quando é o casamento mesmo? __ Arrisquei-me a perguntar.
__ 14 de novembro, próxima sexta... Lá na igreja matriz.
__ Ahn!
Foi por aqueles dias que compreendi principalmente quanto uma mulher precisa ser vaidosa. Então decidi começar por um belo corte de cabelo... Nada melhor que uma renovada no visual para uma mulher se sentir melhor!...
E depois... Por muitos dias após o casamento, meu coração: Tá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá como a corda de um relógio batendo sem pressa. Bem, mas estou no shopping, escolhendo algumas roupas lindas... Uns acessórios divinos (sem esquecer-me dos sapatos)... Um caso para minha autoestima...
(Ah! Um vizinho aqui já parou, olhando-me admirado...)