De uma cor inexistente (*)
(Memoriais de Sofia/Zocha)
O telefone toca. É para sair correndo. Alguém grita seu nome desesperadamente. Uma cortada
no mapa da cidade, a Delegacia é do outro lado, na planimetria sem saída. – Onde está ele? pergunto. Sigo o guia. Áspero, seco, duro, gelo! Subimos escadas descemos escadas. Um cheiro fétido, ruídos de algemas, ferro_olhos fechando-se. Aqui não há elevadores com infusão de olores.Não posso entrar na cela, mas, de um pequeno retângulo, com as mãos agarradas nas grades, surge o rosto dele. É um príncipe negro que há mais de dezenove anos se droga tentando esconder seu delírio de vida por falta de anéis.. Ele não tem anéis e ela gosta de anéis e ele tem só marcas de anéis de ferro nas costas das chibatas desse tronco. A voz funda, rouca, condenada suplica – Por favor, tire-me daqui! – De repente, sob as frestas do gradil, um reflexo de uma cor inexistente reflete e projeta-se similarmente de uma torre ao longe sob a vidraça, entre cortinas guardando as sombras de suas pedras no espectro... – Como são parecentes e inexistentes as cores das mãos quando agarradas às mesmas grades aneladas...
(*) cores complementares do espectro/Prof.Israel Pedrosa
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