Imagem: Criação de Adão - Michelângelo
Música: Noturno - Chopin
Aceitar, descobrir, transformar e criar
Na conturbada semana do ENEM, ouvi no rádio do carro uma entrevista com um jovem postulante a uma vaga de engenharia em uma Universidade Federal. A repórter perguntou qual são os seus sonhos e o jovem entrevistado respondeu: “quero ser um grande cientista e criar coisas novas para a humanidade”.
Quando se tornar um grande cientista, o jovem da entrevista se dará conta que o cientista não é um criador por excelência. O cientista é, antes de tudo, um descobridor, um transformador. Ninguém criou o DNA e as partículas subatômicas, esses elementos já existiam na natureza. Da mesma maneira, as diversas formas de energia não foram criadas e sim transformadas.
Um grande cientista, além do seu rico cabedal acadêmico, deve possuir a capacidade de perscrutar a natureza e, por extensão, o universo. Dedicação e vontade são molas propulsoras que estimulam a capacidade de descobrir e de transformar.
Outra capacidade importante a ser desenvolvida é a capacidade de aceitar. Nem tudo é possível. Existem coisas não modificáveis. A morte e os fenômenos da natureza, por exemplo. A aceitação de certos fatos e fenômenos não representa passividade e sim sabedoria diante da realidade.
De uma maneira resumida poderíamos dizer que os cientistas descobrem e transformam, as pessoas espiritualizadas aceitam e os artistas e os filósofos criam.
Criar é a capacidade de produzir novas idéias e obras. Essa capacidade é latente no ser humano. Ela é um potencial adormecido que necessita vontade e esforço para se transformar em realidade.
Os recursos materiais usados pelos artistas e filósofos são mínimos. Eles não necessitam de grandes aparatos para criar. Na maioria das vezes a sua obra é uma “parição” de sua mente. Muito embora, o grande artista e o grande filósofo necessitam de um conhecimento universal.
Cientistas, artistas e filósofos não vivem em mundos separados. Existem artes nas ciências e ciências nas artes. Do mesmo modo, a filosofia permeia todas as atividades humanas.
O homem usa a sua capacidade de aceitar, descobrir, transformar e criar para desenvolver ciência, arte e filosofia. Dentro do nosso academicismo moderno os cientistas dominam as ciências, os artistas as artes, os filósofos a filosofia e os sábios, as três.
Temos, nos dias atuais, muitos especialistas e poucos universalistas. Espero que o jovem da entrevista se transforme num universalista, e, desta forma, ele será um cientista com capacidade de criar e não apenas um especialista para atender a necessidade de produção e consumo.
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