LEI DE GERSON

Gerson, o célebre “Canhotinha”, craque de bola famoso revelado no Flamengo carioca, que passou também na sua brilhante carreira pelos times do Botafogo, Fluminense, São Paulo e pela Seleção Brasileira de futebol, após encerrar sua carreira tornou-se comentarista esportivo.

Além de entender muito do assunto, pois foi mestre na arte futebolística, um dos maiores “Camisa “10” que já vi jogar, o Gerson nos brindava com verdadeiras pérolas em seus comentários na televisão. Numa ocasião ele soltou a frase “- Brasileiro gosta de levar vantagem em tudo! ...”, cujo bordão ficou famoso e se tornou conhecido como a “Lei de Gerson”. É uma das nuances do propalado “jeitinho brasileiro”.

Pois bem, eu vinha passando hoje pelas imediações da Feira dos Produtores, aqui em Belô, Bairro da Cidade Nova, onde resido, quando tive a atenção despertada para um sujeito mal enjambrado, dos seus trinta anos, moreno de cabelos negros e lisos, bigodinho, meio gordo, o qual estacionou defronte a Feira, postou um aparelho de som montado num pequeno cavalete, botou um CD de música italiana, sacou um violino descorado e maltratado de dentro dum estojo e, com o arco, fingia fazer o solo da música belíssima, cujos acordes espalhavam-se pela brisa fresca daquele principio de tarde.

As pessoas riam ao passar, um ou outro se acercava, ouvia um pouco e depois seguia seu caminho, alguns jogavam algumas moedas ou notas de R$2,00 no chapéu colocado junto ao cavalete e algumas senhoras idosas, saindo da Feira, exclamavam admiradas:-

“- Nossa, mas como “toca” bem esse rapaz, né mesmo? ...” – e faziam questão de deixar a sua paga pela performance do sujeito.

Parei à distância de alguns metros, fiquei atento ao “artista”, aos seus movimentos com o arco do violino, subindo e descendo ao ritmo da música, tudo muito bem ensaiado e esperei pelo final da melodia. No encerramento, o “artista” meneou a cabeça, moveu o arco, com estilo, pra cima e pra baixo e finalizou juntinho com a canção tocada pelo disco.

Aí ele passou a mão pelos cabelos desalinhados, curvou-se educadamente e agradeceu às pessoas que deixavam suas moedas no chapéu, sorrindo e tentando ser simpático aos transeuntes. O certo é que estava conseguindo vender o seu peixe. Era notório que de músico o rapaz não tinha nada, não arrancava uma nota sequer do seu violino e a enganação era visível, mas o cara mandava muito bem o seu recado:-

“- Brasileiro gosta de levar vantagem em tudo! ...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 10/11/10

"Enquanto houver cavalo/São Jorge não anda a pé"/Por isso que me abalo/Com os que agem de má fé.

Bem humorada interação do grande poeta e trovador Jajá de Guaraciaba, a quem agradeço com forte abraço.

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 10/11/2010
Reeditado em 15/11/2010
Código do texto: T2608276
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