Histórias de um violão, e minha nova guitarra elétrica
Conta uma história, meu violão acústico, de um verão que o sol nasceu pra ele. A força voraz com que os raios translúcidos tocaram seu corpo de madeira não-nobre, iluminaram e ecoaram numa simples sinfonia articulada, que cantava uma ode ao sonho, e deste sonho sobraram alguns vestígios, estampados nas marcas do tempo em sua madeira trabalhada e esculpida por mãos ásperas e escravas, que não sabiam do valor que ele teria ao receber a afinação do sol. É a história de um cara que se sentia parte viva do mundo, um cristal latente que desanda pelas ruas a procura de uma mão cuidadosa para o segurar, como a pedra que rola sem sentido pelas ruas empoeiradas. Nos olhos deste estranho ser, um brilho iluminava seu rosto de expressão serena e distante. Havia uma garota que o desejava mas não o demonstrava, disfarçava com espontaniedade cada vez que seus olhares se cruzavam. Ele com furtivos olhares se perdia na imensidão dos olhos dela e mergulhava na sua perene e singular existencia. Mas o tempo passou, as noites clarearam, os rios secaram e as flores morreram, e o garoto com sua ingenuidade não conseguiu ter com aquela menina um momento especial. Então sua mente escureceu, sabia que o mundo era assim, mas estava escuro demais para pensar. Os olhos se tornaram mais distantes e as noites quase eternas. No meio desta confusão um raio de sol penetrou sua atmosfera, ilumando o violão que tenho em mãos. O garoto se sentou como em um lamento desesperado e se pôs a contar sua história em tristes versos harmonicos.
O violão chorou ao terminar a história, contanto os detalhes da canção. Meus dedos tremeram ao sentir suas lágrimas e o larguei num canto, sentindo que o mundo também é confuso para mim e que estou no meio de todo mal e de todo bem. Estou numa noite eterna e corro o risco de ser enganado por algum furtivo raio de sol. Sento triste ao lembrar. Vejo as notas da canção girando pelo ar, deito a cabeça no travesseiro e tento esquecer meu violão acústico de madeira não-nobre. Olho a elegante guitarra elétrica, de cores tradicionais. Ela ainda não conta história alguma, mas na certa haverão muitas para se chorar, muitas canções de tristezas e alguns lampejos de uma estranha ilusão. Malditos raios de sol.