Mágoa
De tudo restaram três coisas, um corte, o sangue que escorria da ferida e a mágoa. Foi assim seu feriado, cinza, perplexo. Recolheu-se no sofá para dali nunca mais sair e não conseguia ainda acreditar que aquilo mesmo havia acontecido. Entristecia-se. Perdeu naquela mesma hora a inocência e a sua irmã. Perdeu o corpo que a aquecia e tudo mais que ele representava - se viu sozinha, incompreendida.
Afinal, tudo era apenas um ato de liberdade ou a mais elucubrada traição. Não saberia dizer, e sinceramente tinha até medo de perguntar. Sabia que dali pra frente os dias não seriam mais como foram. E sabia que depois da tempestade tem sempre um arco-íris.
Incrédula, horas pensa em pazes com ela, horas com ele – horas deseja que os dois nunca houvessem existido em sua vida, faz uma prece pela leveza e mesmo assim ainda acorda às quatro da manhã. Chora pela falta que sente, e se pergunta se eles a sentem também? Provavelmente não. Ela havia sido descartada, eles apenas se supririam até cansarem. E no final, como tudo sempre, isso vai passar, haverá dias de sol, e pelo menos terá alguma certeza de que os poucos que agora restam serão de verdade, o verdadeiro pote de ouro que aparece no final de qq tempestade. Pelo menos o coração dela ainda era puro, apesar de.