Encontro à escura

Com a notícia da menina que fugiu de casa para encontrar com um “namorado virtual” a quem conheceu através de um site de relacionamento e nunca tinha visto na vida, fiquei pensando nos riscos que a garotada corre... não só risco de vida, mas também risco de pagar “micos” que são verdadeiros King Kongs. Eu mesma, na minha adolescência, já vivi algo assim. Era tudo muito mais calmo e menos perigoso na época, conhecíamos uma pessoa por telefone, em uma ligação por engano, e era possível até marcar um encontro, sem medo de ser assaltada, violentada, agredida.

Eu lembro que nós conhecíamos pessoas pela internet e confiávamos até mesmo nosso endereço, telefone, sem medo de que essas pessoas pudessem nos prejudicar. Ainda assim, às vezes rolava aquela decepção, quando se conhecia alguém com uma voz magnífica, mas que ao vivo e em cores era a personificação do Sherek. Sem falar naqueles que expunham sua foto (recortada de uma revista com atores desconhecidos, porém lindos) e acreditávamos estar conhecendo um quase Giannechinni, mas quando o encontro acontecia, nos perguntávamos como ele tinha perdido tanto cabelo e adquirido aquela barriga enorme em tão pouco tempo... Isso quando não faltavam alguns dentes bem na linha de chegada!

Bem... paguei alguns grandes micos desse tipo, mas do maior mesmo eu participei como mera coadjuvante, porém me diverti como nunca! E essa história que passo a relatar, nunca vou esquecer enquanto viver:

Uma pessoa, a quem considerava uma amiga na época, tinha um namorado que era muito bonito, porém enrolado. Ela escondia esse namorado a sete chaves, talvez com medo de alguém se interessar por ele...e ela estava muito triste, se sentindo sozinha e esquecida, por isso resolveu passar o camarada para trás e colocar alguns enfeites em sua bela cabeça. Vamos nomeá-los como Maria e Pedro. Maria foi convidada para uma noite de queijos e vinhos, em um hotel sofisticado de Salvador e, é claro, não recusaria nem se o moço parecesse com o corcunda de notre-dame. Vamos dar o nome de João ao pobre moço, que consultou se Maria não tinha uma amiga para levar ao evento, já que ele estava recebendo a visita de um amigo e não queria levar ninguém para segurar vela (estava bem intencionado, o moço!). Embora não fosse o tipo de programa que eu fizesse normalmente, fui a amiga escolhida, com a promessa de que não me obrigaria a nada, muito menos a seguir madrugada afora se a companhia não fosse interessante.

Enfim, depois de uma mega-super-produção, saímos ambas lindíssimas, produzidézimas, eu muito tensa por não saber se agradaria o amigo de João que nos apresentou pelo nome de...........Pedro!

Sim amigos. Foi isso que aconteceu. O dito namorado de Maria, Pedro, era o amigo do João.... e eu ficaria a noite toda de papo com aquele gato, enquanto ela seria obrigada a agüentar, com todo o mau humor que lhe foi possível por uma noite, o João que era muito chato e acabou ficando bêbado por não entender o motivo daquela mulher tratá-lo tão mal no primeiro encontro!

Logo de início, Pedro surpreso, até pensou em desistir do programa, foi o que me disse ao pé do ouvido... mas eu, boa amiga que era, insisti para que continuássemos com a farsa, já que não estava disposta a perder a noite de queijos e vinho 0800 que João resolvera bancar.

Não fosse o mau humor da criatura e a bebedeira do pobre João, a noite teria sido maravilhosa, já que Pedro se mostrou um homem inteligente, bonito, simpático e muito, mas muito vingativo! Isso fez com que me cantasse a noite toda, se derretesse de carinho e dengos por mim e que me fizesse rir muito, cada vez que olhávamos na direção dos pombinhos que mais pareciam cão e gata!

A noite acabou, voltamos para casa em carros separados e, ao descer do carro tive que fazer um esforço sobrenatural para afastar Pedro que insistia em dar um “beijo de mentirinha” para sacanear Maria. E essa ainda não foi a pior parte. Pior mesmo foi subir 13 andares de elevador com uma mulher furiosa, à beira de um ataque de nervos, me espancando com uma sandália de saltos altos enquanto eu ria descontroladamente da situação!

Driblar o moço que insistia em ligar pra casa e me convidar para sair novamente foi a parte gostosa da história, já que eu não queria servir de objeto de vingança para ninguém, mesmo concordando que Pedro tinha toda a razão do mundo para se vingar!!

E restou disso tudo uma grande lição: Encontro à escura, nunca mais!!!!

Sol Sampaio
Enviado por Sol Sampaio em 10/11/2010
Reeditado em 12/11/2010
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