Elegância X Micos

Eu costumo sentir muita inveja das mulheres que conseguem passar um dia inteiro em Salvador, sob um calor insuportável, usando terninho, meias finas, saltos altos e maquiagem impecáveis. Sem falar nos cabelos que não sai um fio do lugar. Minha irmã é um exemplo disso....ela não transpira, não mancha roupa, não escorre maquiagem e fica lá, com o nariz empinado, pronta para ir à festa assim que sai do trabalho. É impressionante a capacidade delas. São seres de outro planeta, só pode. Eu já tentei...... mas 2 horas depois o calor já tomou conta de mim, já tirei o casaco, já arranquei as meias (que foram desfiadas no primeiro tropeção), já fui ao banheiro e lavei o rosto, tirando toda a maquiagem, sem conseguir disfarçar o borrão deixado pelo rímel. Isso sem falar no lápis que prende os cabelos no alto da cabeça, já que eles insistem em cair no rosto.

Acho que esse é um dom nato. Algumas mulheres nascem com ele, mas nunca se adquire com o passar do tempo. Existem mulheres que sempre são impecavelmente elegantes, nunca pagam micos. Outras, como eu, conseguem cair em um restaurante, sem ter bebido ao menos um gole de bebida alcoólica, e esfolam o rosto, quebram um dente porque não tem reflexo nenhum e “esquecem” de colocar as mãos na frente para proteger o rosto do tombo!

Lembro-me de alguns grandes micos vividos por mim, mas um em especial merece ser contado: Um dia estávamos em um barzinho da moda, eu e algumas amigas, rindo muito, paquerando, falando mal da vida alheia... acho até que falávamos sobre classe ao paquerar um gatinho!! Eis que de repente surge um moçoilo lindíssimo, e vem em nossa direção. Seus olhos encontraram os meus, seguiu-se aquele momento mágico, até que eu consegui enfiar o canudo do meu suco em uma das minhas narinas!!!

Até hoje não sei o que doeu mais, se a gargalhada das minhas amigas ou se a cara de espanto do jovem mancebo. Isso é coisa de mulher elegante? Não, definitivamente.

Eu tenho cá comigo uma teoria: Esse atabalhoamento é hereditário. Eu tenho uma tia que vive cheia de marcas roxas pelo corpo, unhas quebradas, feridas nos joelhos e cotovelos, coisas assim. Sempre achei que mesas, cadeiras e quinas têm vida própria....eles andam em nossa direção e param no caminho para atrapalhar nossa passagem. As pedras também rolam sozinhas (Raul Seixas já dizia isso) e param bem no nosso caminho para que tropecemos. Enfim, o universo conspira contra os pobres atrapalhados e estabanados.

E enquanto eu tento ser uma pessoa elegante, vou quebrando sandálias, torcendo os pés, ralando os joelhos e pagando micos estrada afora.

Sol Sampaio
Enviado por Sol Sampaio em 10/11/2010
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