A VIDA NA PONTA DO LÁPIS
 
 



Cuidadosamente, ela retirou da gaveta o estojo, na verdade uma linda lata com paisagem de montanhas nevadas na tampa. Lembrou-se de quando o ganhou. Adorou! Como eram bonitos aqueles lápis de cor enfileirados em degradê...
 
Agora nem todos estavam lá e os que restavam não passavam de toquinhos, alguns sem ponta ou com ela quebrada. Aqueles das cores que ela mais gostava, azul, amarelo e rosa, foram os primeiros a diminuir de tamanho. Com eles havia pintado o céu, o sol e as flores no decorrer da vida. O vermelho serviu para tingir seu coração e os amores ali desenhados, assim como o sangue a borbulhar em grande emoção. O verde foi bastante usado para colorir mares e montanhas por onde andou, além da densa mata da esperança que sempre vislumbrou. O azul-marinho serviu de fundo para admirar o céu salpicado de estrelas, ou em contraste com o luar. Azul clarinho e rosa-bebê embalaram doces cantigas de ninar...
 
No cantinho do estojo havia três lápis não muito utilizados: o roxo, o preto e o cinza. Embora com pontas ainda em bom estado, era do outro lado que se viam estragados, completamente mordidos. Em vez de roer unhas, ela roia esses lápis naquelas horas sombrias em que a tristeza a impedia de enxergar qualquer colorido.
 





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