Era Dela, O DELÍRIO DE UM DELEITE

Ela meteu o pé na estrada, como uma eremita brejeira, divagou devagar num embarque para dentro e para fora de si.

Como era de se esperar, por muitas vezes, encontrou-se e perdeu-se em retóricas repetitivas em narrativas encontradas pelas estradas, nos textos de livros lidos e vivenciados.

Dançou com poetas e poemas, comoveu-se com pessoas e suas estórias, Pessoa e seus heterônimos.

Repetidas vezes, encontrou com o “fantasma do sertão da sua solidão” e em meio de um desespero, descobriu Lispector que clareou, justificou, permitiu e legitimou seus erros e alucinações.

Dedilhou muitas páginas incansavelmente na companhia dos textos de Chico, o ouviu encantada e não devolveu o Neruda.

Distraiu-se com Física, Matemática e Filosofia, conversa sempre que pode com Einsten, Hawking, Marx, Angel e outros tantos, tentando sentir e entender as coisas do universo.

Humanizou-se com as palavras revolucionárias de Leonardo Boff.

Por sua vez, Dostoiévscki abriu a porta da Casa dos Mortos, onde aprendeu a conviver no extremo ermo, morreu, enlouqueceu e sentiu como real a tortura do Muro de Sartre.

Renasceu e reinventou-se buscando ideologias, mentiras sinceras e verdadeiras.

Não perdeu o costume de senta-se na calçada, de andar de pés descalços, desvairada em seus pensamentos e com cabelos ao vento, sempre que pode, reencontra com Mimica, a criança que costumeiramente sente prazer em brincar com a lógica do nonsense de Carrol, desabrochou numa mulher segura de si que não gosta da falta de sinceridade dos livros de auto-ajuda.

Viveu algumas Desventuras em Série e armada de coragem, sabe que talvez outras viessem.

Aprendeu que o “essencial é invisível aos olhos” com o Pequeno Príncipe e com o Príncipe desafinou de Maquiavel, bateu na porta de Nietzsche, foi abençoada com o esquecimento e aproveitou até os seus equívocos.

Apreciou Os Miseráveis e viu que a mudança do ser humano é possível, passivo de bondade.

Presenciou o amor adoecer no Morro dos Ventos Uivantes e desabou em lágrimas no romance Tristão e Isolda.

Gabriel lhe mostrou que o amor e a paixão não têm idade pra acontecer em Memória de Minhas Putas Tristes e aprendeu com Montaigne que os textos podem ser reconstruídos na tentativa de explicar o inexplicável entre duas pessoas no recorrente ensaio ao O ensaísta.

Se permitiu, com isso teve medo, frio e sede, mas também teve conforto, foi aquecida, alimentada e saciada com lindos contos, crônicas, fábulas etc. E ELA AINDA DELIRA E DELEITA-SE COM COISAS REAIS!