Viva a Verdade!
Agora estava ali. Novamente estava ali, naquela mesma Corte Militar para rever seu julgamento. De repente, no meio da leitura do relatório, ele se abstrai e deixa de ouvir o que ocorria em seu redor para pensar em tudo que vivera nestes últimos anos.
Recordou as acusações injustas que lhes foram feitas, os dois julgamentos que o condenara, a repercussão que houve em seu país, no ódio popular contra a sua pessoa, na degradação militar diante das tropas (a humilhação de ter todas as patentes arrancadas e a espada quebrada a vista de todos), a carta que entregou à sua esposa Lucie, rogando por defesa... Veio-lhe então, à mente, o semblante de sua esposa – tão jovem antes, tão envelhecida depois pelo sofrimento! Lembrou-se de Picquart – seu incansável defensor -, de Zola e o seu manifesto (J’Accuse) em sua defesa. Visualizava, agora, o pórtico da Ilha do Diabo, aquele inferno sul-americano, onde sofrera anos e envelhecera séculos.
Estérházy... E lembrou do oficial de origem húngara. De repente, um sorriso irônico flui dos seus lábios e ele diz em voz baixa: - Estérházy... Todo seu sofrimento, toda a humilhação, culpa dele. Os planos secretos vendidos ao exército alemão, a sua denúncia e tudo que adveio disso.
Mas, agora, voltara à realidade a tempo de ouvir as últimas palavras do juiz, absolvendo-o de qualquer responsabilidade. Sentiu-se como que, tudo aquilo ali, fosse uma outra realidade, melhor dizendo: não era com ele... Mas era. Ouvira gritos de alegria e um unânime “Viva Dreyfuss”, ao que ele interrompe e diz: - Não, viva a verdade!
(Danclads Lins de Andrade).