AMOR SENSUAL

O amor sensual é uma forma de amor frágil pois tem sua origem no físico, na nossa carne. E tal como a carne que lhe dá origem, é feito de instantes.

O amor pleno, aquele que nos trás a verdadeira felicidade e equilíbrio, não se origina em nosso corpo mas sim, em nossa alma. O nosso corpo é o ponto gatilho das nossas paixões, nossos desejos e necessidades que estão ligadas a nossa fisiologia e aos instintos remanescentes da nossa animalidade.

Esse é um ponto que muito nos confunde no decorrer de nossa jornada em busca do amor. E é justamente essa confusão que em muito nos dificulta ou até mesmo nos afasta do encontro com o verdadeiro amor.

De certa forma isso é compreensível, pois o contato mais grosseiro é sempre, por esse motivo, o mais perceptível pelos nossos sentidos. Sendo assim, torna-se natural que o contato visual, que de regra é o primeiro, influencie e estimule de forma tão avassaladora uma das necessidades básicas da nossa carne, que por mais que nos passe despercebido, está diretamente ligada ao que cientistas batizaram de “instinto perpetuação das espécies”, que se traduz em nosso corpo como desejo sexual. E como não poderia deixar de ser, para que a procriação seja garantida o ato sexual, que começa desde o primeiro olhar terminando na finalização da cópula. É uma prática extremamente prazerosa, onde dá-se a troca não apenas de fluidos, mas também de simpatia amorosa. E é exatamente nesse ponto que a nossa confusão começa.

Boa parte das vezes, por estarmos desatentos ou simplesmente por desconhecermos a diferença. Tendemos a confundir essa simpatia amorosa com um sentimento ainda mais sublime, o amor. E acabamos dessa forma por efemerizar os relacionamentos. Talvez seja necessário que eu me faça entender melhor. Então vamos lá...

Logo na minhas primeiras palavras – eu não sei se vocês se lembram- eu disse que o amor sensual se origina na carne e o amor verdadeiro na alma. Pois bem, a nossa carne ou corpo -como queiram – é um instante da nossa existência que dura do momento em que o óvulo materno é fecundado (há controvérsias, mas não vamos nos prender a isso agora), até a hora em que damos o nosso último suspiro. Já a nossa alma ou espírito, é o nosso ser energético que transcende a carne e ao tempo.

Todo derivado guarda em sua estrutura as características do seu ponto de origem, da mesma forma que uma bala guarda a doçura e a capacidade de desmanchar-se que possui o açúcar que a originou. Ou como a escultura que tal como a pedra na qual foi entalhada, guarda em si a capacidade de seguir intacta, passando sucessivamente de geração em geração.

Seguindo esse princípio, se observarmos atentamente poderemos constatar que, da mesma forma que a carne que lhe dá origem, o amor sensual também carrega consigo a efemeridade. Pois apesar de ocorrer ao longo de toda nossa vida, ele é feito de instantes providos de princípio, meio e fim. Que podem não necessariamente ocorrer com o mesmo companheiro, pois como eu já aqui lhes expliquei tem origem na carne... na sua própria carne e não na do outro. O outro é o que você cobiça, o objeto de “SEU” desejo. O desejo obviamente pode ser simultâneo, mas cada uma das partes tem o seu. Não estou dizendo com isso, que o amor sensual seja leviano. Existe sim, fidelidade no amor sensual. Ele é fiel a sua origem que está em você e não no outro. O que não constitui um erro ou pecado. Lembrem-se: Instinto de preservação das espécies... Tudo no Universo tem uma razão de ser.

Continuando... Mantendo-nos fiéis à mesma linha de raciocínio, podemos observar no amor verdadeiro a mesma fidelidade à sua origem: a alma. E da mesma forma que a nossa alma, o Amor é constante, contínuo cuja duração transcende a duração do nosso corpo. Se assim não fosse, como poderíamos explicar dois idosos que mesmo na ausência do furor da carne, são capazes de continuar partilhando amor intenso e verdadeiro? Creio que deve-se ao fato do Amor em conformidade com a sua origem manter sua natureza sublime, meiga, doce , tranquila... Jamais explosiva. Uma explosão dura por segundos apenas, não mede as consequências do impacto das suas ondas. E um sentimento com tal característica, pode ocorrer repetidamente mas não de forma ininterrupta, pois estaria acima da nossa capacidade de suportá-lo.

Em conclusão, creio que seja importante estarmos atentos para sabermos distinguir m sentimento do outro. Para que não caiamos, como observo estarmos muitas vezes à fazer, no círculo vicioso da efemeridade dos relacionamentos amorosos. Não se iludam ao pensar que o desejo não está presente no Amor verdadeiro, pois está. O Amor é o elo de natureza sublime porém, de constituição forte e real, que em comunhão ao amor sensual une corpo e alma desvendando em nosso íntimo um prazer inenarrável que não apenas nos proporciona a preservação da nossa espécie, mas nos trás o equilíbrio que necessitamos para nossa jornada rumo evolução moral como um todo, como família e como indivíduos.

Como eu disse em um dos meus textos anteriores... O Amor é um sentimento enriquecedor, curativo. E se por acaso eu ainda não havia dito, o faço agora... O único capaz de nos proporcionar um prazer imenso, manso e duradouro.

Que a paz esteja em cada um de nós...