UM PÁSSARO- TOTEM NA "CIDADE -JARDIM"

Não é de hoje que São Paulo é chamada de "Selva de Pedra" e tal designação temática já foi palco de escritos e até de telenovela.

Porém no nosso dia a dia, vez ou outra me vejo focando o olhar a algumas pequenas paisagens que passam despercebidas mas que quando identificadas nos enternecem a alma.

Assim, tenho por hábito fotografar o que me chama a atenção principalmente na natureza dos parques.

De fato, sonho com uma cidade mais verde e a bem da verdade, o aceleradíssimo crescimento desordenado da cidade tem amputado esse meu sonho utópico.

Ainda outro dia a imprensa mostrava um ninho de passarinhos que foi construído no esqueleto duma árvore seca em meio à avenida Brigadeiro Luis Antônio, um local um tanto hostil.

O que deveria ser a regra chamou a atenção do mundo da mídia.

Uma sensação!

Uma graça o tal ninho de pardais recém chegados à poluição a nos pedir espaço e socorro à vida , sob o iminente perigo de qualquer gato mais afoito da vizinhança.

Dias depois vinha eu seguindo pela avenida Cidade Jardim, ao lado de quem dirigia, quando mais a frente, no pátio do MUBE (MUSEU BRASILEIRO DE ESCULTURA), observei meio de longe um totem artístico em cujo ápice havia um perfeito desenho dum pássaro.

O sol se punha e os reflexos me ofuscaram a visão de modo que me esforcei para entender o que a silhueta daquela obra de arte queria nos dizer.

Um pássaro nunca existe por acaso numa cidade como São Paulo.

Claro, impossível se entender uma arte tão de longe, mas o pássaro me parecia algo muito simbólico e muito perfeito.

Lamentei estar sem minha máquina fotográfica para puxar um zoom daquele passarinho tão bem desenhado lá no alto, e mesmo assim arrisquei uma foto com o celular, esperando uma melhor aproximação do autómóvel em meio ao trânsito parado.

No ato do meu click, da janela do carro já bem próxima a ele, o tal "pássaro- totem", um PICA -PAU de penacho vermelho, bicou o nariz da face esculpida na madeira, e num voo alto e inesperado, a driblar os arranhacéus, sobrevoou o MUBE e desapareceu no horizonte imaginário que delineava aquela tarde paulistana.

Parecia um milagre...e eu sorri espantada.

Aquilo sim era um legítimo pedido dum projeto paisagístico para uma CIDADE JARDIM.

Nunca havia visto, de súbito, uma arte ganhar tanta vida a explicitamente nos conscientizar sobre a nossa apertada realidade de selva de pedra formatada numa dura megalópole.