Ratos

Não descobri ainda coisa neste mundo que mais me apavore do que RATOS.

Madrugada de uma noite qualquer, acordo com o barulho de um balde. Sonolenta penso: ventou e o balde rolou no chão. Entre meio acordada e meio dormindo, escuto o balde de novo. Abro a veneziana lentamente e lá está, o balde se move! O coração já subindo pela garganta, tento me acalmar: pode ser um gatinho, pode ser um calango, ou até um pássaro, mas... pode ser um RATO!

Levanto pavorosa, passo pelo outro quarto: ela dorme. Sou metida a ser corajosa então penso: vou resolver isso. Não iria conseguir dormir com aquele balde “andando”. Abro a porta, pé ante pé, saio da casa. É claro que não teria coragem de levantar o balde, mas que vontade de escutar um miauzinho. Nada! Se for um calango e no terror subir pelas minhas pernas! Não, não é um gato. Não mia. O que fazer, o que fazer? Irei acordá-la. Ela que não tem medo de ratos.

- Vamos ver o que é.

- Não, pelo amor de Deus. Se for um rato vou gritar e acordar os vizinhos.

- Hum.

-Coloquemos um peso sobre o balde, que pelo menos para de se arrastar e a gente dorme. Esta latinha de tinta serve.

O primeiro contato com ratos do qual me lembro, foi na casa da fazenda. Eles andavam pelo madeiramento do teto sem estuque. O pior era que não andavam solitários, víamos sempre dois ou três. Acho que me lembro também de uma vez acharem uma ninhada no guarda-roupa de minha tia. Recém-nascidos são horrendos, mas pelos menos eu não saio correndo. Outra vez, estava acariciando a barriga de uma gata, pensando que ela estava prenha, meu tio só deu olhadinha macabra e disse que o barrigão era pela comida devorada.

Nunca entendi como os gatos não se sujam comendo as presas. Ai, iéca, quis morrer, pois já fazia hora que eu a estava carinhando.

Tenho medo de assombrações também, não de “bichão”, mas de espíritos. Até tenho me preparado para um remoto encontro, posso perguntar se “ele” está precisando de alguma coisa que eu possa fazer. É pra isso que “eles” aparecem, não é?! Porém prefiro que o espírito apareça e não fique fazendo atividades paranormais assustadoras. Quando dormi na casa materna sozinha, a prima perguntou-me se não tinha medo da casa assombrada. Maldita hora que eu perguntei por que? Só por dois acontecimentos: meu primo dormindo lá sozinho, toca o celular, ele atende e ninguém fala nada.

Ele retorna e dá sinal de ocupado. No outro dia, ele liga de novo, e quem atende: minha irmã. O telefone que estava no celular era o fixo da casa. Valei-me Nosso Senhor! O segundo ocorrido: umas das irmãs e o namorado na sala, começam a ouvir batidas na tampa do fogão e outros barulhos de cozinha. Trancam-se no quarto e ele nunca mais aceita os convites para uma noite a dois (que passa a ser a três, a quatro, Virgem Santa Maria!).

Só sei que foi assim. E a louca aqui morrendo de medo, dormiu na casa no outro dia. Tenho uma frase de incentivo: na hora do medo – coragem! Mas mesmo assim, os espíritos perderam para os ratos, porque se a casa estivesse com a presença certeira do roedor, eu jamais dormiria lá sozinha.

Pergunto-me por que tanto pavor de rato? Lembro-me que quando criança, um tio tinha as unhas dos pés todas carcomidas, minha avó dizia que quando ele trabalhava na roça, estava tão cansado ao dormir, que não se incomodava com os ratos a lhe comerem as unhas. Esta é a cena que mais me dá calafrios. De outra feita, comecei a ler o livro Ratazana, escrito por um alemão. Tive que parar porque o personagem sonhava com a ratazana e eles conversavam. Dei pra sonhar com ratos, aí não agüentei, além de me atormentarem desperta, ainda tenho que agüentar dormindo? Não estou preparada para continuar com a leitura...

Consigo me preparar para o encontro com espíritos, mas com ratos! Ou ele me matará do coração ou eu a ele, com meus gritos. Podem passear pelo estuque à vontade, fazer suas festinhas, mas não me apareçam ao vivo e a cores.

Admiro os ratos daqui. Gostam de frutas. Comiam mamão, mangas. São educados. Até hoje não entraram dentro de casa, mesmo com as falhas no estuque de gesso. Converso telepaticamente com eles: por favor não entrem, aqui não é o lugar de vocês, não corram o risco da morte, hein.

Algumas vezes quando jogava água nas plantas do fundo, algum saía em disparada, escalando o muro e subindo no telhado. E o meu coração na boca!

Amanhece, ela com ganas de matar, se for um rato, eu, morta de medo, torcendo para que fosse um calango. E se for um gatinho e tiver morrido – sem ar! Oh meu Deus! Um momento, volto e calço o tênis e fecho todas as portas.

Mexe o balde com o pé e diz: não tem nada aqui não, fugiu. De repente o balde trinca e o pé dela afunda no chão, o rato sai de lá todo suado e fedorento. Grito, corro, sapateio, começo a rir de nervosismo. Mas o bichinho dá um olé nas muchachas y se va.

Por isso prefiro os “bichões”.

Lígia Martins
Enviado por Lígia Martins em 08/11/2010
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