Política moderna: Não sou tão inteligente para entender

Sou nascido nos anos 50. Quando criança, via meu pai comentar com seus amigos sobre política. Naquele tempo, no nosso meio era apenas PSD e UDN. PTB também era presença, embora na minha família eu me lembre apenas de PSD UDN. Talvez houvessem outros, mas não me lembro.

E eu me lembro que meu pai discorria sobre assuntos de política com devoção quase religiosa. Não se cogitava uma troca de partidos. Aquilo era coisa feia. Penso que seria tão impensável quanto um corintiano deixar a fiel e passar a torcer pelo Flamengo e vice versa.

Era um tempo em que a política, bem ou mal, era bem representada, havia devoção nas convicções, era uma devoção às causas do partido e suas linhas de idealismo. Não sei se isso era bom ou ruim, eu era muito jovem pra entender. Mas eu sabia que a opção por um partido era de coração, de alma mesmo. E se agia dentro desses ideais, acreditando ser esse o melhor caminho para o país.

Hoje a coisa mudou, se transformou em carreia política. Como já disse os Demônios da Garoa, virou samba do crioulo doido. Tudo é possível, por mais maluco que possa parecer. Se fazem alianças esdrúxulas, forjadas exclusivamente nos interesses pessoais dos seus componentes. Que se danem o coletivo, a sociedade, numa perversão quase sádica.

Não se fala em partidos políticos pelo seu ideal, pelas suas propostas. Mas sim pelo poder que pode representar. Pelas alianças que se pode obter. Fico decepcionado com isso. Não era pra ser assim. O propósito político não era este.

Nas últimas eleições, se viu tantas coligações, tantos troca-troca quase pornográfico de partidos, que deixa perplexo até mesmo os cientistas políticos mais experientes. Meu pai, nos seus quase 80 anos, coitado: não entende essa farra louca. E o pior, é que mesmo políticos declaradamente “ficha suja”, mas de grande popularidade, são disputados quase no braço, pelas coligações A,B, C ou D. A meu ver, essas figuras carimbadas deveriam ser execradas, excluídas, esquecidas, punidas e presas. E o pior, essas mesmas “personalidades do mal”, por ser carismáticas e de boa fala(são bons nisso), cativam eleitores pelos quatro cantos do país. Fico imaginando: Os seus simpatizantes querem mesmo, ser representados por figuras sujas e imorais? Minha capacidade de compreensão não me permite tanto. Eu simplesmente não entendo. Me martirizo, me preocupo. Que futuro temos à nossa frente?

Onde foi que erramos? Como foi possível deixar essa farra política se institucionalizar no nosso país? Porque existe tanta impunidade? Porque é tão difícil se confiar em um político? E principalmente, por que são tão desonestos, frios, interesseiros, desumanos até? Claro que existem as exceções, mas é tão insignificante que se dilui no mar podre da impunidade institucionalizada. E isso se difunde e se alastra na sociedade como um todo.

É... Não entendo nada disso. Sou burro demais pra entender.

Faria Costa
Enviado por Faria Costa em 08/11/2010
Código do texto: T2603441
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