Sempre alguém chega antes ou chego depois.
Sempre alguém chega antes ou chego depois. Não sou nada, não tenho nada, às vezes parafraseando Álvaro de Campos, estas frases me invadem fazendo eco em uma vida provisória, que nada é terminado. As promessas não são cumpridas, os projetos não se concretizam, ficam pela metade e os sonhos nunca passam de sonhos. Sempre a mesma sensação de sufocamento como se afundasse na sua própria imagem. Quais os motivos que me fizeram criar uma vida que as ruas param em bifurcações que terminam em nada, pois parece que nunca faço a escolha certa. Por que vivo eternamente nesta recusa adolescente a todos os sistemas? Isso me leva a uma solidão e um estranhamento permanente em todos os espaços pelo qual ando. É como se todos os lugares me levassem a lugar nenhum.
Sucessivamente quis um vôo que não aconteceu, fiquei trancada num mundo em que não pedi para ficar. Os meus pés se fixaram na terra do nunca e não foram à terra dos realizados, dos sonhos concretos, dos planos terminados. A vida adulta não chegou, passou distante de mim, continuo nesta procura do sei o que, rejeitando sistemas e vida convencionais. Os sonhos se tornaram grandes demais não cabem na vida transitória e provisória que me restou. Sinto uma solidão permanente mesmo em meio a lugares cheios. Existe uma inadequação constante em mim, as mãos não cabem nos bolsos, os cabelos não ficam atrás das orelhas, as palavras nunca são suficientes quando saio de trás do seguro habitar virtual.
Sei que talvez digam que muitos poetas se sentiram inadequados na vida e fizeram sucesso. Claro, depois de mortos. O sim e o não fazem parte do mundo que vivo, mas o não é continuo... O inferno da antítese é uma constante que não necessita da variável para acontecer sempre na minha vida. Divido-me entre o que tenho e os sonhos não realizados. Mas, o pior não é não ter realizado os desejos juvenis, é o maldito desajustamento constante, a invariável sensação de que não faço parte de nada. Como se eu chegasse tarde ou mais muito antes de tudo acontecer. Como se todos os espaços nunca fossem meus e a percepção de nunca estar em casa é inalterável. Volto-me para as palavras, textos como se eles pudessem suprir esta ausência de tudo em mim.
Isa Piedras ( 08/11/2010)