INDIFERENÇA

Ontem pela manhã encontrei-me com Epaminondas, um velho amigo. Queixou-me que estava desgostoso com o genro. Tinham uma convivência harmoniosa e de uma hora para outra, por motivo fútil, se desentenderam. Não conheço o genro do velho Epa. Mas ele, conheço bem; trata-se de uma pessoa pacífica, cordata; não é dado a bate-boca. O tipo de pessoa da qual se dizem ser “gente boa”.

Pelo seu relato, quase o genro chegou as vias de fato, não faltando palavrões e ameaças de socos.

Resultou daí que o amigo Epa ficou magoado; isso o incomodava muito. Perguntou-me sem querer saber a respostas: O que fazer? Respondi que ficasse indiferente.

A indiferença é hostil e machuca; como revide não existe arma melhor e mais eficaz. É por si só o mais forte dos sentimentos humanos, que se pode oferecer sem um pingo de arrependimento, a quem nos fere.

Quem usa de indiferença castiga sobremaneira a outra pessoa sem que esta se possa defender, pois, o indiferente não oferece abertura, para uma conversação, já que se fecha e passa a desconhecer o agressor. O que não existe não pode ser conhecido!

A indiferença é a negação total dos outros, como seres humanos, com seus direitos e deveres. A nulidade dos sentidos é um ponto de referência do sentimento de indiferença, nada é mais marcante do que ser ignorado.

Discordo totalmente da frase/clichê que diz: “Ninguém pode lhe magoar sem o seu consentimento”. É mais fácil dito do que feito, mas, a prática da serenidade pode gerar resultados surpreendentes. Coisas que antes seriam motivo para o ressentimento se tornam irrelevantes.

Pra que se estressar com a decisão dos outros? Se alguém fez algo a você que te magoou, experimente ignorar. O ofensor deixa de existir e a ofensa perde o efeito. É melhor que remoer mágoas.

Sou da opinião de que é bem melhor cortar o mal pela raiz através da indiferença. Não permito que atos de dementes afetem o meu humor ou estraguem o meu dia; assim utilizo a máxima de Cícero: “A minha consciência tem mais peso pra mim do que a opinião do mundo inteiro”.

No mundo basta você olhar em volta para encontrar quem lhe deseja o mal. A inveja, campeã dos pecados, campeia galante nos quadrantes da cidade.

Você convive com uma pessoa por anos, acha que a conhece bem, tem por ela alta estima e de repente, para sua decepção, leva uma traulitada. Ao apurar os fatos você descobre que a inveja causou tudo.

Em qualquer local que você for sempre haverá um invejoso de olho em você.

Doentes, dementes e agressores gratuitos têm em todo lugar e sem sombra de dúvidas eles, débeis que são, buscam na infâmia o único relento para a insegurança que portam. É certo que o invejoso e difamador apenas exalta a sua necessidade de destruir para sobressair. Daí o uso constante da infâmia, injuria e a difamação. É disso que ele se alimenta.

A indiferença é muito mais poderosa que qualquer contra-ataque ou mágoa. Ela é um antídoto fortíssimo. Transforma o veneno em água.

Nada assusta mais ao agressor do que ter o conhecimento de que não sofremos nada em absoluto. Afinal ao fazermos uso da indiferença, ele deixa de existir; fica recluso da sua insignificância.

Assim, terá mais paz e serenidade aquele que conseguir dominar o poder da indiferença através da auto-estima.

Não é à-toa que se apregoa por aí que, o que se opõe ao amor não é o ódio e sim a indiferença.