Casulos Dourados para Ana Toledo com amor (reeditado)
CASULOS DOURADOS - Bichos da seda
Depois de ler livros lindos, imagens lindas vieram me visitar.
Quando os casulos ficavam prontos, ou seja, chegavam ao seu termo, era uma lindeza ver as caixinhas cheias de casulos dourados brilhando como ouro. E ter participado na criação dos bichinhos e eles criarem aquela metamorfose era um encantamento que não tem medidas para dizer. Era magia? Não porque tínhamos sido parte da transformação! A gente vira preciosidade se em criança foi e fez preciosidades. Era milagre? Não, a não ser que milagre tenha significado de trabalho realizado, ou ações.
Pegar a ponta do fio dourado e desenrolar um pouco era tarefa difícil de conseguir fazer. Mas igualmente satisfatório era ver a nossa mãe sorrir e esticar para expor a beleza no ar. A luz batendo no fio dourado, e o dourado cintilando! E a delicadeza daquele fio fino como uma teia de aranha no ar. Um espetáculo! Viver a vida fazendo ou criando espetáculos particulares é tão bom, pois assim se percebe que tudo, de certa forma, é um espetáculo de alegrar, de alegrar.
Acho que tais atividades aos seis anos me encantavam e abria o amor de compreensão às demais coisas associadas. Uma cadeia de maravilhas. Eu sentia amor e agradecimento às folhas dos pés de amoras, que eram a cerca viva do fundo do grande quintal. Uma cerca tão espessa que nunca vi do outro lado dela. Não a via como uma cerca, a visão da criança é funcional; as folhas da amoreira estavam ali para serem colhidas e servir de alimento para as lagartinhas verdes fazerem os seus casulos.
O casulo era a casinha delas. Isto também era magia delas, era só lhes dar as folhas já colhidas de véspera para perder a umidade da frescura e ficarem na maciez seca desejada para comerem vorazmente.
Bonito também ver a construção do casulo que começava branco. Tantas delicadezas a olhar. É por isso que a gente vira artista ou pintor, que a Natureza vai ensinando tanta coisa. E a terra preta e fresca dos pés de amora! Que terra bonita e querida! Às vezes eu mexia na terra para não deixar raiz nenhuma descoberta. Queria proteger a amoreira. E quando esta dava amoras era hora de degustar aquelas frutinhas escuro como vinho, doces e macias, delícias na boca!
Lembro-me um dia, remexendo a terra, encontrei uma aranha caranguejeira preta e enorme. Mas ela estava calma e carregava uma bola branca nas costas. Não tive medo, entendi que carregava milhares de filhotinhos que se viam presos lá dentro. E bicho é assim, se não se sente medo dele, ele não ataca. Só o faz quando percebe que vai ser agredido.
A inocência, a pureza e a beleza caminham juntas.