Procura-se um amor que seja para sempre - Crônicas curtas -
- Não sei onde encontro vontade para dar uma de bom samaritano. Caramba que frio. Nove e meia, ainda da tempo de ver o jogo, pelo menos o segundo tempo.
- Rua João Correia Praga, deve ser aqui.
A noite estava estranha, um nevoeiro denso cobria parte da paisagem daquele bairro que por sinal, eu não estava perdendo grandes coisas.
- A porta está aberta, vou subindo. Não me atreveria a usar o elevador, vou pelas escadas mesmo. Esse lugar me da arrepio. “Ao meu único e verdadeiro amor, para sempre”. Deve ser um grande amor mesmo.
- Boa noite!
- Boa noite meu filho.
- Meu nome é Ciro, eu moro na Rua João Pereira Braga, inclusive no mesmo número de apartamento que a senhora, 204! Entregaram por engano uma carta.
- Entre, por favor.
- Eu tenho uma correspondência em nome de Antenor, para Otília. É a senhora?
- Sim, sou eu. Eu sabia que ele não esqueceria de mim, aguardei tanto tempo por essa carta.
- Bom, então está entregue. Eu preciso ir porque quero pegar pelo menos o segundo tempo do jogo. Tenha uma boa noite dona Otília.
Pra você também meu jovem. Agora posso ir tranquila.
Aquela senhora era muito simpática, não fazendo jus ao local que morava.
Desci as escadas e só quando estava fora do prédio é que me dei conta. Havia esquecido minha carteira na mesa. A porta estava fechada. Toco o interfone.
- Acho que você vai passar a noite inteira tocando ai.
- Por quê?
- Não mora ninguém no 204.
- Mas eu acabei de entregar uma correspondência para uma senhora, dona Otília.
- Acho meio impossível. Dona Otília faleceu faz cinco anos. Entrou em depressão logo após seu marido ir embora sem dar notícias, seu Antenor.
Não fiquei para escutar o resto da história. Até hoje não durmo direito.