Saudades de mim 3. Minha mãe.

Minha mãe.

Minha mãe era uma mulher alta, forte, morena, batalhadora, alegre e gostava de cantar modas enquanto lavava roupas na tina e no batedor ao lado do poço. Era mãe de quatro filhos, dois meninos e duas meninas, lá nos idos da década de 1950. Morávamos numa casa parede-e-meia, com chão de terra batida, numa das colônias da fazenda, no interior de São Paulo. Minha mãe sempre gostou muito de plantas e muitas vezes ela deixava o serviço de casa por fazer e passava horas e horas carpindo, plantando e regando suas plantas. Em todas as casas que morávamos " mudava-mos sempre de casa, mas sempre na mesma fazenda" ela enchia de plantas, eram plantas ornamentais como flores, folhagens, trepadeiras, mas tudo sem muita ordem, onde houvesse um espacinho ela ia plantando. Plantava bananinha, dálias, capitão, onze-horas, crisântemos, rosas, dinheiro-em-penca, lírios, colchão-de-noiva, margaridas, jasmim, brinco-de-princesa e outras que nem me lembro do nome, e lá perto do poço onde a terra era sempre úmida ela plantava as ervas "medicinais" . A mulherada da colônia vivia lá em casa em busca dos chás de minha mãe.Ela tinha remédio prá tudo!- Tá com dor de barriga ou vômito? Dê chá de boldo ou de "marcelinha"!

-Tá com ferida inflamada? Coloque folha de fumo ou beladona passada na chapa quente e besuntada com azeite. -Tá com dor de ouvido? Coloque um algodão umedecido com óleo morno onde se fritou alho. -Tà com lombriga? Dê leite fervido com erva santa-maria ou semente de abóbora! -Tosse? Chá de erva são-joão! -Problema no rim ou na bexiga? Chá de quebra pedra e folha de abacate! -Hemorragia? Açucar ou leite de pinhão no local! - Galo ou hematoma? Alcool e sal! Tinha também arruda, erva cidreira, losna, alecrim, alfavaca, poejo, hortelã, mas nem me lembro mais prá que servia tudo isso. Sempre tínhamos uma horta, que minha mãe cercava com ripas de bambú para as galinhas não entrarem e lá ela plantava alface, almeiráo, couve, mostarda, pimentão, coentro, salsinha, cebolinha, vagem, chuchú, berinjela e abóbora e regava tudo isso com água do poço! Lá no fundo do quintal ela plantava batata dôce, mandioca, milho e sempre que e carpia o quintal ela deixava alguns pés de guaxumba para fazer vassoura. De vez em quando acontecia uma tragédia. Era quando as vacas da fazenda derrubavam a cerca do quintal. Se minha mãe estivesse em casa ela já passava a mão num porrete e corajosa afugentava as vacas, mas as vezes acontecia de ela não estar em casa, aí as vacas entravam, derrubavam, pisoteavam e comiam tudo, até as roupas do varal e eu e meus irmãos corríamos prá dentro de casa, fechávamos a porta e ficávamos na janela vendo tudo e nos divertindo com o espetáculo da destruição do nosso quintal, e quando minha mãe voltava prá casa e se deparava com tanta judiação ela até chorava,

mas logo começava a consertar a cerca e a plantar tudo outra vez e logo como a Fenix, tudo renascia. Ô saudade, sô!

Madaja Dibithi
Enviado por Madaja Dibithi em 07/11/2010
Reeditado em 12/12/2010
Código do texto: T2602166
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