Longevidade – segredo.

Dona Isaura se mudou do apartamento 31 para o 01 que fica no térreo do mesmo prédio de três andares sem garagem nem elevador.

Dizem que para alívio da moradora do 21 que não agüentava mais a velha senhora com sua bengala num toc, toc, toc, toc a partir das cinco horas da manhã.

“Ela dorme depois da uma e acorda as cinco, todo santo dia.“

É o que diz a moça do 21.

-Eu não consigo ficar na cama “amassando” o corpo depois das cinco da manhã.

Quando eu era mais moça, mulher que se prezasse acordava com o sol. Agora, com tudo facilitado pela eletricidade, pisos de cerâmica, comidas prontas e faxineiras, as mulheres não precisam acordar tão cedo, mas cá prá nós: tem as que exageram!

Dona Isaura sofre de uma “maldita insônia”, e sofre também em saber que há pessoas que se deliciam com oito a dez horas de sono, e nem o seu radinho de pilha consegue roubar-lhe a paz, e o prazer do sono.

“Ao menos até agora, comenta a moça do apartamento 11.”

As cinco da matina pontualmente Dona Isaura liga o seu radio de pilha, que Mindinho lhe deixou de herança, e segundo ela, é muito bom!

-Foi nele, diz a velhinha mostrando o Motorola, que o finado Mindinho ouviu o glorioso Santos Futebol Clube se tornar várias vezes campeão com Gilmar, Helvio, Ivan, Urubatan, Ramiro, Zito, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pele. Era um time de dar gosto! Vejam por quem o menino Pelé, com dezesseis anos foi praticar! Agora, só se fala do Pelé, como se ele tivesse feito tudo sozinho.

É de se pensar nas opiniões de Dona Isaura...

-Como pode um santista não visitar o Salão dos Troféus do Santos Futebol Clube? Aquilo sim que são títulos! Vem gente do Mundo todo visitar aquela Sala.

E lá se vai dona Isaura a pé ou de táxi com sua bengala, torcer por seu glorioso Santos em tudo que é jogo da Vila Belmiro.

-Enquanto o Mindinho, o meu falecido marido, foi vivo, a gente ia assistir aos jogos até em São Paulo! Fazíamos parte da Torcida Organizada. Era uma festa! Me orgulho de me manter fiel ao meu Clube do coração. Como já dizia o meu velho e querido pai, que esteja em bom lugar, apesar de ter sido corintiano; “amor a gente não troca”.

Dona Isaura fecha o assunto ao dizer botando a mão no peito:

-Eu sou Santos até morrer!

Então se benze e baixando a voz completa muito séria:

– Que não seja tão já, porque não tenho pressa nenhuma em reencontrar o Mindinho. E olha minha filha, que o mês que vem farei 90 anos!

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 06/11/2010
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